Publicado em 16/06/2024 às 19h41.

Por Gecilio Souza

ORGULHO NORDESTINO

Meu sotaque tem o timbre
Da cultura do nordeste
Quanta honra se alguém
Me chama cabra da peste
Os pêlos da minha cabeça
E a cútis que me reveste
Representam a caatinga
O cerrado e o agreste
Sou caboclo genuíno
Me orgulha ser nordestino
Não preciso fazer teste

E se algum cafajeste
Por preconceito ou rancor
Subestima minha cultura
Com insultos ou o que for
Saiba que o meu sotaque
Traduz a fibra e o valor
De um povo criativo
Na escrita e no humor
Dotado de um faro fino
Me orgulha ser nordestino
É um orgulho sim senhor

 

Sou mistura de suor
Com a chuva sazonal
Sou poeira e maresia
Chapada com o litoral
O meu sotaque é idioma
Um dicionário informal
Jamais troco o meu oxente
Por Ok ou coisa igual
Aprendi desde menino
Me orgulha ser nordestino
Porque sê-lo é cultural

Minha gramática é regional
Tem potência e tradição
Sou o couro do chapéu
Da perneira e do gibão
Nasci do carro de boi
E do som do carretão
Respiro folia de reis
Com fogueira de são João
Aos outros não discrimino
Me orgulha ser nordestino
Escrevo com o coração

Arroz, farinha e feijão
Compõem o meu alimento
Rapadura de engenho
Indispensável suplemento
Galinha e porco caipiras
Dão mais prazer e sustento
Carne de bode ou carneiro
É saúde cem por cento
Faz bem para o intestino
Me orgulha ser nordestino
E como tal me apresento

Meu sotaque é documento
CPF ou identidade
Sou a linguagem dos rincões
Longe ou perto da cidade
A viola e o violão
Tocam a dura realidade
Afinal também sou arte
Sou letra e musicalidade
O cordel tem som de sino
Me orgulha ser nordestino
Escrevo de boa vontade

Respeito a diversidade
Porque a cultura é plural
Do Oiapoque ao Chuí
É o Brasil oficial
Porém amo o meu nordeste
No sotaque dou o sinal
Dormir na rede ou ouvir
O berimbau em ritual
Almoçar meio dia ao pino
Me orgulha ser nordestino
Que coisa sensacional

Tomar leite no curral
Logo após ser ordenhado
Das vaquinhas curraleiras
Que dormiram no cercado
E aquele requeijão quente
Bem cozido e temperado
O meu sotaque diz tudo
Nele está representado
O que aprendo ou ensino
Me orgulha ser nordestino
E isto me deixa honrado

Não sou bairrista fechado
Mas amo a minha região
Os costumes, o cardápio
As formas de diversão
Pamonha, cuscuz e curau
Feitos no velho fogão
Canjica e tantas receitas
Formam longa relação
Eis o meu berço uterino
Me orgulha ser nordestino
O sou com satisfação

Prezado concidadão
Respeito e respeitarei
Os incontáveis costumes
E todos os que apreciei
Têm sentido e valor
Mas meu nordeste eu sei
Que é meu berço e meu lar
E jamais renunciarei
Sou filho e não inquilino
Me orgulha ser nordestino
Milhões de vezes o serei

2 COMENTÁRIOS

  1. Meu caro Gecilio!É impressionante o seu jeito de falar sobre coisas sérias, de modo leve, prazeroso, profundo e quesonador. Parabéns pela sua arte! O seu cordel traz profundidade, sabedoria e nos oferece ferramenta pedagógica, na construção da autonomia em nosso meio. Parabéns!

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