Publicado em 11/10/2024 às 11h55
BERTO E BAZU: UM AMOR SEM LIMITES…
Por Antonio Rocha.
O casal mais apaixonado que já conheci na face da terra, morava num pântano, entre o rio e a rua… Dizia-se à época, que o amor sempre vai embora quando o dinheiro acaba. Porém, esta máxima não se aplica ao casal Berto e Bazu. Pois, foram dois humanos que se juntaram para formar o casal do sorriso, do otimismo desmedido e da boa hospitalidade para com todos que adentrassem o seu lar.
Eram dois deficientes físicos sem mobilidade nas pernas. E que andavam arrastando-se pelo chão, ou escorados num par de muletas, se quisessem chegar a algum lugar. Foi quando, com um pouco mais de sorte, ganharam um carro, miniatura de carro de bois, arrastado por um parelho de bodes. Doravante, Berto e Bazu, passaram a percorrer as ruas da cidade, desfilando no seu moderno e atraente meio de transporte.
E assim, de sacola no ombro e um bastão na mão, dirigiam sempre aos sábados, para a feira popular. Iam, desse modo, buscar a caridade do povo; dos homens e das mulheres de boa vontade. Ali esmolavam, sentados no duro calçamento de paralelepípedos, sob o sol inclemente da feira pública na praça do mercado. Assim, de braço e cuia estendidos, eles recolhiam dos passantes e feirantes, o sustento da semana.
Um aqui, outro acolá… Dessa forma iam colocando no bornal de Berto ou no colo de Bazu, uma rapadura, um litro de feijão, uma cuia de farinha, um talho de toucinho, meio quilo de bucho e costela de vaca e, de vez em quando, uma prata; digo uma moeda de níquel, para a compra do querosene que iria alimentar a lamparina e espantar a escuridão e as muriçocas do pântano. Pois, foi lá que fincaram a sua casa, a sua moradia. Ao fim do dia, voltavam para casa, com um misto de alegria e cansaço, mas com a feira feita.
Durante a semana… lá vai Bazu! Com a trouxa de roupa na cabeça e sabão de quadro na mão, arrastando-se para a beira do rio para lavar os panos, ou, as poucas peças que ornavam os seus parcos pertences. Esfregava, batia, alvejava, enxaguava, torcia e estendia sob a luz do sol. Para, só depois, recolhê-las secas e guardá-las num velho malote. Sim. Era ali, na última casa, plantada no brejo, ladeada de esgotos e cercada de varas do cerrado. Era lá onde o casal dormia. Ora ouvindo a sinfonia dos sapos, ora curtindo o canto da mãe d’água, ecoando do fundo do rio nas altas madrugadas. Muitos jovens, crianças e adultos, acorriam pra sua casa, só para ouvi-los contar causos e piadas, bem como as suas sagas de aventuras. Eram eles sempre muito simpáticos e bem humorados, além de bons conselheiros.
Um amor transbordante, verdadeiro; jamais visto… Puro e pleno de reciprocidade. Era assim… Quando necessário, os jovens realizavam mutirões e adjutórios para a reforma e manutenção da casa. E quando a ocasião era própria, realizavam serenatas, novenas e cantos para aniversário. Assim, Berto e Bazu iam se deliciando e vivenciando um amor infindo. Dando aos jovens profundas lições, da arte do bem querer. Demonstradas pela cumplicidade e solidariedade, na superação dos seus limites físicos, materiais e estéticos. 22/09/24 Antonio Rocha
Caraaa que texto bom ! Lembrei na foto que tem a bicicleta.. lembro que essa mesma era do amigo Luciano Miranda onde certo dia no grupo de jovens. Judac. Ele me disse ..vc poderia levar Bazú até a secretária ao lado da delegacia pra fazer um documento de aposentadoria? Eu prontamente acolhi o pedido e foi assim que logo ela recebeu sua ajuda de custos.pra amenizar as pendengas da vida. Saudades eternas desse casal.
Belo testemunho Hermano. Que bacana rapaz… obrigado !