Publicado em 13/11/2024 às 10h20.
Por Antonio Rocha – UM MITO DA MINHA INFÂNCIA.
Pra hoje eu trago uma das histórias que já não se contam mais. Nem nas esquinas e nem nos botecos de Correntina. Entretanto insisto em dizer que entre um pileque e outro, eu ouvia tudo isso nos tempos da minha infância. Escutava e não me cansava de ouvir… Tudo provinha das bocas dos consumidores de aguardente. Eram narrativas arrepiantes, sobre os seres que povoavam as longas noites daquela pacata cidade.
Por causa disso e da minha curiosidade, toda noite estava eu ali de olhos secos e bem acesos, mirando pra tudo quanto era canto pelo buraco da parede. Sim, bem postado, como um incansável vigilante… Igual soldado na trincheira ou guarda na guarita sem piscar. Até perdi mesmo as contas! Foram diversas vezes… Sem intervalos de feriados e nem dias santos. Como que uma estaca, estava eu ali… Focado no buraco da parede, em noites escuras ou nas claras noites de luar.
Na lua cheia insistia eu a espiar. É que me dissera que ele vinha… Principalmente nessas ocasiões. E chegava chegando! Todo peludo, desnudo, unhas grandes e orelhas enormes, batendo-as como matracas. Olhos incandescentes, avermelhados e um suspiro que mais parecia uivados de lobo nos confins da selva. Coisa de outro mundo…!
Diziam que era bicho solitário. E que assim andava pela noite profunda, à procura dos inocentes. A notícia era de que, ele preferia os não cristãos. Aquela criança que não fora ungida com o óleo e nem descera às fontes batismais. Por isso as mães prudentes e piedosas sempre se apressavam em logo batizar os seus filhos na igreja, já no ato do nascimento do seu rebento para escapar da má sorte e do apetite voraz do Lobisomem.
Assustado, eu sempre procurava saber, se pela redondeza ou na minha própria rua, nascera uma criancinha. O medo me consumia, mas a minha curiosidade de ver o bicho era bem maior. Não queria me encontrar com ele, é claro, mas, medroso, eu desejava avidamente vê-lo caminhando pelas ruas, com a sua capa preta uivando, grunhindo e se contorcendo quando o efeito da passagem da lua cheia cessava sobre o seu corpo peludo, na sua natureza animal.
Temor e atração! Eis o duplo sentimento que me acompanhava a todo tempo. Esperei por ele como uma criança espera pelo presente de natal; como o noivo ansioso espera pela noiva; ou, como o doente espera por remédio. Em vão esperei! E assim, muitas crianças nasceram, cresceram e casaram, sem que o Lobisomem viesse. Que pena…! Exclamei… Eu que gastei toda a minha infância à sua espera...
Foi só mais tarde, e, pra minha decepção, que me falaram que a figura do lobisomem era uma invenção. Uma história de assombração só pra fazer as pessoas dormirem mais cedo. Enquanto isso, esposos infiéis e de patentes elevadas, percorriam ruas e praças, nas altas madrugas só para livres, visitarem as suas amásias ou suas mantidas.
Esse folclore trazidas pelos colonizadores era para que os escravizados não fugisse, e ao longo do tempo a história continuou para que as crianças não saíssem. Kkkk, quem é dessa região que nunca teve medo do Nego d’água ou da Mãe d’água, ou da que guarda a caça e entre outras que mechia com o imaginário das crianças.
Muito bom… Quem nunca ouviu isso na infância das roças e pequenas cidades neh? Kkk gostei do conteúdo final dos amantes noturno kkkkk
Bacana esse resgate de vocês, sobre a nossa memória popular… Obrigado!