Publicado em 10/07/2025 às 10h50.

A INVENÇÃO DO RANCHÃO
Por Antônio Rocha

Era tudo muito tímido, informe, ainda por se fazer, nos idos anos de 1970. O lazer, a criatividade, a demarcação dos espaços e as mentes brilhantes, tudo sob a expectativa de sua eclosão. A essa altura, a natureza já havia feito a sua parte, restando, pendente, apenas a parte da sociedade local. O rio movia-se através de suas correntezas, numa transição do nome de Rio das Éguas para o de Rio Correntina.

Recordo-me que, às suas margens, o lençol natural composto por relva e por mata já sofria os impactos da incursão dos moradores. Quase no meio da cidade, a natureza se encarregou de formar uma bela e cativante ilha, à época, visitada apenas por bovinos e equinos do Senhor Cordeiro. Posteriormente, é que se tornou o lúdico paraíso da população: exuberante, atrativo, puro e virgem. Ademais, aos poucos, aquela indescritível paisagem mexeu com a imaginação dos jovens da região.

Assim, entre os inúmeros jovens atraídos por aquela beleza, menciono Toinho do seu Hélio, Javan de Inhozinho, Roberto de dona Florzinha, Nonato do Zé de Malvina, Louro do Maninho, Reinaldo Alcântara entre outros. Foram eles quem, como precursores, deram rosto e forma àquele espetacular evento natural. A bem da Justiça, eles se dignam ao reconhecimento de “as mentes brilhantes”. Inventivos e criativos, descobriram entranhas da história de Correntina. Bem ao contrário de Cabral, eles são genuínos descobridores, a despeito de o fazerem inconscientemente. Aliás, metaforicamente, falando, as índias, eles não descobriram, mas as inventaram.

As gerações mais antigas ainda se lembram quando aqueles jovens se juntaram e desnudaram o mato, abrindo caminho e colocando pranchões de aroeira, cravejados de tampinhas de garrafas, desde a margem até o perímetro da ilha. Ali plantaram a bandeira, bandeira da liberdade. Além disso, para tomar posse daquela descoberta, o grupo apressou-se em instituir, no local, os convescotes, os piqueniques e outros programas permeados de um pileque.



Portanto, foi daqueles encontros que nasceram as mais geniais ideias e iniciativas animadoras da vida festiva urbana. Aqueles jovens inventaram modernas folias de reis, os mais inusitados desfiles de carnaval, entre os quais dois jumentos “encangados” puxando um carro de boi, que comportava um trio elétrico por cima. Criaram, inclusive, comida aromatizada com incenso, subtraído do padre. Sem, contudo, contar outras “traquinagens” mais. E, para ampliar o seu repertório criativo, inseriram dizeres e paródias na tradição da queima do Judas, reforçados com furtos pré-programados de galinhas, que se realizavam às altas horas da sexta-feira santa.


Logo, foram esses rapazes que batizaram o ranchão, antes mesmo de se darem conta de que ali poderia simbolizar o mais belo Centro de Atração de Correntina. A constante ocupação daquele espaço fez com que, mais tarde, aquela Ilha Central adquirisse novas feições, com a construção do Ranchão à base de madeira e de palha, assim como a proteção e a ampliação artificial de sua orla. Hoje, o lugar se distingue, profundamente, de sua aparência original, pois o seu formato atual tem características da modernidade.


Por fim, foram estes referidos personagens, alguns dos verdadeiros desbravadores e criadores desta extraordinária alma cultural do lugar. Pena que a cidade de Correntina ainda não priorizou o resgate de sua história, tampouco investe, satisfatoriamente, na recuperação de outros monumentos que ornam e conferem valor à nossa cidade.
Reinaldo Alcântara foi quem primeiro montou o Rachão.
Maravilhoso texto, não sabia dessa história, mais me recordo das lavadeiras de roupa e até de vasilhas por lá.
Hoje a orla de Correntina precisa de mais quiosques e quadras de areia, para a prática de esportes como: vôlei de praia, futvolei, bet tênis, futebol de areia e entre outros. Além de ciclovias, para o uso de bicicleta e patinete.
Muito bom.. histórias sempre é bom reviver.