Publicado em 22/07/2025 às 19h53.
A PARTEIRA MARIA DE JORGE.
Por Antonio Rocha.
Não muito distante da antiga Vila Nossa Senhora da Glória, que mais tarde viria a ser Correntina, nascera Maria, filha de Felipa e Eliseu. Posteriormente casou-se com Jorge e, desde então, tornou-se conhecida como “Maria de Jorge.” Sua residência era tão próxima que, habitualmente, vendia as próprias colheitas e bugigangas na feira da Vila. Quando, indagada sobre a razão de seu ofício de parteira, de pronto respondia: Vocação, meu filho, é vocação! Vim a esse mundo para cumprir a vocação de “pegar nenem”. Jurava que aquela atividade era coisa de tradição de família. Herdeira de Sá Felipa, sua mãe, esposa de Eliseu, Maria de Jorge era uma velha conhecida e respeitada parteira da região.
Conta-se, por boca certa, que a curandeira conhecia todo o mistério da ciência do mato, da terra e do ar. Benzia, rezava, expulsava forças invisíveis e curava de tudo quanto era coisa ruim. Entrava nos Gerais e conhecia as plantas, uma por uma, além de saber da utilidade e eficácia curativa para cada enfermidade: erisipela, carnegão, paludismo, amarelão, maleita, espinhela caída, “empacamento”, congestão, ventre caído, “pustema” inflamada, doenças veneras e outros achaques.
Então, era dessa forma que Sá Maria identificava, diagnosticava e curava as pessoas. Maria de Jorge era, realmente, uma mulher sabida e requisitada em todo o sertão. Só não largava o vício de consumir “aguardente.” Este era sempre mantido numa garrafinha, debaixo da cama, por prevenimento. A arte da cura pelas ervas, Maria de Jorge aprendera por vias maternas. Foi ela a única das três filhas a se dedicar tal ofício. Nascera com o dom e a missão de levar adiante o legado de sua progenitora, bem como a habilidade de parteira. Outrossim, esta senhora possuía também o tino para negócios.
Essa personagem costumava assentar banca nas festas da redondeza, em qualquer lugar do sertão onde tivesse um rala-bucho, um forró. Ali, encontrar-se-ia dona Maria com os seus vinhos, conhaques, cachaça, cerveja, gasosa e outros licores, para não deixar o candeeiro se apagar. Entretanto, nenhum divertimento era capaz de tirar Maria parteira da sua missão. Estava sempre atenta ao chamado da sua vocação, de tal forma que, quando por ventura alguém gritava: Sá Maria, minha mulher tá incomodada para ganhar menino, a velha parteira saia avexada para a sua diligencia, com o firme propósito de auxiliar a parturiente, aplicando suas técnicas de beberagens. Mas, se fosse o caso, dependendo da resposta às perguntas que ela fazia emissário da parturienta, demorava um bocadinho mais, e dizia: paciência, meu filho, paciência. Assim, segurava o marido até a festa acabar para, em seguida, cumprir sua missão. Consequentemente, Maria de Jorge foi se tornando famosa e conhecida em todos os lugares.
O seu prestigio era celebrado por gente miúda e graúda, uma vez que muitas crianças haviam passado pelas suas santas mãos. Embalada pelo prestígio, ela vangloriava-se ao afirmar que, pelas próprias mãos e pelos poderes da virgem Nossa Senhora do Parto e da Boa hora, nunca deixou morrer uma criança sequer. É que, no longo trajeto de ida e volta, Sá Maria ia debulhando o terço, rezando para tudo quanto era santo. Implorava, inclusive, àqueles que ela se quer conhecia. Valeu ressaltar que a santa a quem ela mais recorria, era à Virgem Maria. Já no fim da vida, cansada e sem muita força, Maria parteira arrumou Teodora Venta como sua auxiliar. Porém, frequentemente Teodora era vista animada pela branquinha extraída do miolo de cana. Melhor dizendo, por uma cachacinha mesmo.
Bela história
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