Publicado em 25/8/2025 às 09h50.

PAULO DE OSÉBIA: DA MARCENARIA À MÍSTICA.
Por Antonio Rocha.


Paulo de Osébia foi uma daquelas pessoas que procuraram unir a busca pelo pão às coisas do céu. Era um homem negro de hábitos comedidos e sóbrios. Vestia-se bem alinhado e tinha gosto refinado, apesar de sua vida austera. Vivia entre a mística e o labor cotidiano, dando forma à madeira e à alma, na companhia de suas três irmãs. Juntos, formavam um quarteto de devotos, vivendo à semelhança dos três irmãos bíblicos: Lázaro, Marta e Maria, que viviam no povoado de Betânia, em Judá. Estes desfrutavam da privativa amizade do Nazareno, a ponto de, inclusive, hospedá-lo na própria casa.


Em vista disto Paulo, marceneiro de profissão, passava o dia na marcenaria situada nos fundos de sua casa, à Rua Álvaro de Farias, em Correntina. Suas irmãs Maria, Milu e Veríssima, por sua vez, ocupavam-se em lavar, passar e cozinhar, além de desenvolverem outros afazeres domésticos. Eis quatro beatos solteirões, que viviam na mais santa pureza e em contínua comunhão. Nutriam-se da hóstia consagrada nas santas missas, oficiadas pelos padres carmelitas e, posteriormente, pelos padres diocesanos, entre os quais o venerável André Bérénos. Os membros dessa família de quatro irmãos, sem exceção, morreram sem deixar descendência. Apesar da referência que desfrutava na cidade, a trupe não se fixou na memória popular. Particularmente, sou testemunha de que escolheram viver em busca da casta pureza, em nome de Cristo. Dedicaram-se à comunidade, na vida espiritual e nos laços de irmãos de sangue e de fé cristã.

Embora eu seja testemunha da existência dos mencionados beatos, sua origem é uma incógnita. Recordo-me, tão somente, da casa simples de adobe e do modo de vida cotidiano onde residiam. Aos domingos, dias santos e datas comemorativas do calendário católico, vestiam-se de branco para irem à igreja. Eram sóbrios, comedidos e de postura moralmente correta. Devido às suas santas e ilibadas vidas, tornaram-se referenciais de retidão e de aconselhamento na região. Talvez inconsciente da causa motivadora daquela opção religiosa, tampouco do seu início, o povo respeitava e reverenciava aquela família.

Assim viveram até os últimos dias, porém jazem na sombra do esquecimento da cidade. Embora a sociedade olvide a memória dessa comunidade santa, que foi exemplo de piedade e generosidade, é inegável que Correntina auferiu sua sábia espiritualidade. O quarteto fez aula e legou o costume de entrar de branco na igreja matriz, aos domingos. Ali rezavam e comungavam-se para, em seguida, se posicionarem em absoluto silêncio.

Retornavam sem se dirigir a quem quer que fosse. Após abstinência de pão, água e palavras, discretamente iniciavam um colóquio fecundo e santo entre os vizinhos: Chichico Bezerra, Pedro guarda, Moacir, Benigno Araújo, Odilon Barbosa, Dona Ciana, dona Luíza e tantos outros… Viva a santa comunidade eusébia!