Publicado em 1º/12/2025, às 16h05.

Antonio Rocha.
Possui graduação em Filosofia pela PUC Goiás, graduação em Direito, Licenciatura em História, Curso Seminarístico de Filosofia pelo Instituto de Filosofia/teologia de Goiás, Curso livre em Teologia (1993), especialização em Filosofia Clínica, e mestrado em Ciências da Religião pela PUC Goiás. Ex- Professor efetivo da PUC Goiás, foi professor convidado do Instituto de Filosofia e Teologia de Goiás.

JOANA DO PADRE@

 

Imagem ilustrativa de IA.

Que a loucura não nos deixe perder a sanidade. Mas, afinal, o que é a loucura? Certamente a loucura pode ser uma emoção, com dose excessiva de bem querer. Ou, possivelmente, um avançado grau de ansiedade; um desatino, um desvario ou algo como um desejo incontido de querer, de ter, de ver. Há loucura que é chique de se ter, e há uma outra loucura categorizada como doença. Essa categorização a torna indesejada, estigmatizada e, consequentemente, o seu portador excluído. Há loucuras que, sob o ponto de vista da filosofia, são desejadas, porque consiste na posição crítica perante o mundo e a realidade.

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Em contrapartida, há outras que são encaradas como espécie de maldição, das quais se deseja fugir. Não obstante, cada louco carrega consigo elevados valores,  ocultos no íntimo de sua alma. Ocorre que, sobre ela, repousa tudo que lhe é pertinente, tais como: afeto, sensibilidade, aptidões, habilidade e outras potencialidades, como, por exemplo: o dom de amar e a predisposição natural para a  maternidade. A par disso, vem-me à memória algumas lembranças, tal qual a da meiga Joana do Padre. Exatamente assim que ela era conhecida.

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Isto provavelmente porque costumava rezar e frequentar, vez ou outra, a residência do Reverendo. A humilde Joana era mais uma portadora da triste enfermidade denominada de “transtorno mental.” Assim, transtornada, ela perambulava pelas ruas da cidade e pelas empoeiradas estradas do  sertão, carregando a sua dor município afora. Uma dor que ninguém conhecia, ninguém via e nem podia sentir por ela. É que o seu mundo era um mundo à parte, porém cruelmente real. De fato, o seu mundo transcendia o mundo daqueles que se auto-denominam “normais.” Desta forma, quando agitada, Joana ora andava, ora corria. Às vezes rezava, entoando o hino de são Gonçalo. Não raras vezes foi flagrada em ação de solidariedade, ajudando algumas cozinheiras no internato do Colégio São José, de responsabilidade do vigário.

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Era uma senhora muito querida e, apelidada de Joana doida, perambulava em Correntina sempre apressada e sem destino certo. Apesar do sofrimento, cantarolava canções, principalmente religiosas, enquanto o seu semblante expressava incontida alegria. Estava sempre de saída para qualquer rumo, para qualquer canto, levando consigo valores e tradições; ensinamentos e princípios que, de quando em vez, afloravam em momentos de lucidez. Em tais momentos, poder-se-ia conhecer a sua alma generosa, dadivosa e santa.

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Joana era capaz de construir empatia e harmonia com as pessoas e o seu meio, deixando transparecer o seu lado religioso.  Joana do padre sempre nos surpreendeu com os seus gestos altruístas, qualidades oriundas da sua boa alma. Desse modo, nos lampejos de sanidade, Joana prestava ajuda às famílias necessitadas, demonstrando sua admirável generosidade. Fazia isto descascando verduras, rezando o terço, ou exercendo o cuidado da proteção para com a meninada.  Mas, num tristonho dia, Joana do padre desapareceu de repente, como qualquer estrela que se apaga no horizonte. Ninguém mais a viu  nem ouviu. Sumiu para bem longe. Para onde, não se sabe, e nem notícia se ouviu…

 

 

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