Publicado em 07/05/2025 às 08h31.

Antonio Rocha.
ANTÔNIO ROCHA: Graduação em Filosofia pela Pontifícia Universidade Católica de Goiás, Curso livre em Teologia, especialização em Filosofia Clínica, pelo Instituto Packter e mestrado em Ciências da Religião pela PUC Goiás.

O CERRADO E OS CRIMES CONTINUADOS NO OESTE BAIANO

No dia 25 de abril último passado fomos surpreendidos pela TV Oeste e, posteriormente, pelo jornal de Correntina, com a notícia de que a “Operação Terra Justa” deflagrada pelo MPBA por meio do GAECO de forma integrada com a Polícia Civil, com o apoio da Corregedoria Geral da Policia Militar-Ba e do CIPE Cerrado, prendera integrantes de uma milícia com atuação em conflitos fundiários no Oeste da Bahia. Segundo consta, a referida milícia atuava como segurança para grupos de fazendeiros da região e praticava atos de intimidação e violência na região.”

Foto MPBA divulgação.

Confesso que, ao ser informado, imediatamente recordei-me da célebre frase do jurista Ruy Barbosa: “Justiça atrasada não é justiça, senão injustiça qualificada e manifesta” (Cf. Oração aos moços). Essa frase justifica-se pela longeva violação dos direitos das populações dos gerais, vítimas das ações criminosas e dos constantes massacres perpetrados por agentes, tanto externos como internos à nossa região. São grupos gananciosos, ávidos por riquezas a qualquer custo e auferidas por meios questionáveis, do ponto de vista legal.

Foto ilustrativa.

O chão do nosso Cerrado permanece encharcado de sangue e povoado por cadáveres de posseiros, ribeirinhos, povos originários e operários. Mas, de todo modo, é bom saudar e louvar a ação do Ministério Público Baiano e a intervenção do Estado, a despeito de tão tardia iniciativa. Como diz Tom Zé, em sua canção: “senhor cidadão”, “com quantas mortes no peito se faz a seriedade.”

Foto ilustrativa.

Os nossos gerais têm se transformados em histórico palco de inúmeros assassinatos e execuções, motivadas pela ganância que se consubstancia no dinheiro, na corrupção, na reprovável esperteza, no compadrio e na condescendência de autoridades.

Foto ilustrativa.
Foto ilustrativa.

Incontáveis famílias expulsas, mulheres estupradas, vilipendiadas, assassinadas e enxotadas de seu próprio território. Face a tão triste, dramática e deplorável realidade, todos os poderes permaneceram inertes, senão coniventes ou desenvolvendo ações “tapa buracos.” A inércia reforça e dá amplitude à denúncia constante da canção de Zé Geraldo: “Tudo isso acontecendo e eu aqui na praça dando milho aos pombos.” A covardia e a complacência sempre foram companheiras de jornada dessa gente.

Foto ilustrativa.

Malgrado o condenável atraso, não há dúvidas de que essa operação já começa a devolver-nos um fio de esperança. Porém, faz-se necessário profundar, buscar e investigar, até alcançar a ponta do iceberg, isto é, identificar e responsabilizar a cadeia dos mandantes, controladores da “grana que ergue e destrói coisas belas”, conforme canta Caetano Veloso. Os crimes perpetrados no chão do nosso Cerrado não são apenas contra pessoas, mas também são ações criminosas desenvolvidas contra a natureza e nosso ecossistema como um todo. Trata-se, em última instância, de crimes contra a humanidade.

Foto ilustrativa.
Foto ilustrativa.

Lembre-se de que o assombramento não é de agora. O cantor e compositor Tom Zé já havia alertado, em um de seus versos musicais: “com quantos quilos de medo se faz uma tradição.” No caso em tela, refiro-me ao medo como histórico mecanismo de submissão introjetada na alma do nosso povo. Aqueles que agem como destemidos são, invariavelmente, cínicos ou prepostos dos protagonistas e financiadores dos crimes fundiários e ecológico.

Foto ilustrativa.

Obviamente seria injusto asseverar que todas as pessoas, ou que todos os grandes proprietários de terras dos gerais são criminosos e trapaceiros. Por outro lado, seria ingenuidade presumir que todos os proprietários de terras na região são bem intencionados. Recomenda-se prudência e prevenção, para não se cometer nem sofrer qualquer injustiça.

Foto ilustrativa.

Ao matar os animais matam-se, consequentemente, as nossas fontes de água, os nossos lençóis, toda a biodiversidade e, por tabela, o próprio homem. Embora o jurista Ruy Barbosa tenha razão, reabilitemos o ditado popular que diz: “antes tarde do que nunca!”

3 COMENTÁRIOS

  1. A região da MATOPIBA é muito controversa, enquanto os grandes fazendeiros plantam grãos e fibras como: soja, milho e algodão, para virar commodities, que vão para a estrada até o porto de Aratu em Salvador e de lá ganhar o mundo. A população local continua pobre e sem pespectivas, a merecer do domínio político da violência e da destruição causadas por esse agro.
    É tão controversa, que é só ir em Brasília e Goiânia que você encontra pessoas dessa região por lá, essas cidades 2 recebem pessoas de todo o Nordeste, mais da área da MATOPIBA tem muito mais. A nova fronteira agrícola tão promissora e as pessoas ainda saem dela para poder trabalhar, estudar e buscar atendimento na área da saúde, que controvérsia!

  2. Parabéns, grande Antônio Rocha, pelo texto escrito num belo vernáculo, que expressa profundidade e, acima de tudo, urgência de uma ampla tomada de consciência da questão ambiental. A vida deve ser respeitada e não degradada como acontece no Cerrado do Oeste baiano e pelo país afora. Sem respeito ao meio ambiente não teremos futuro digno e nem mesmo futuro no sentido de subsistirmos como espécie. Respeitar a vida animal e vegetal, cuidar da nossa casa comum planetária, é cuidar da própria humanidade.

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