Publicado em 07/05/2025 às 08h31.

O CERRADO E OS CRIMES CONTINUADOS NO OESTE BAIANO
No dia 25 de abril último passado fomos surpreendidos pela TV Oeste e, posteriormente, pelo jornal de Correntina, com a notícia de que a “Operação Terra Justa” deflagrada pelo MPBA por meio do GAECO de forma integrada com a Polícia Civil, com o apoio da Corregedoria Geral da Policia Militar-Ba e do CIPE Cerrado, prendera integrantes de uma milícia com atuação em conflitos fundiários no Oeste da Bahia. Segundo consta, a referida milícia atuava como segurança para grupos de fazendeiros da região e praticava atos de intimidação e violência na região.”

Confesso que, ao ser informado, imediatamente recordei-me da célebre frase do jurista Ruy Barbosa: “Justiça atrasada não é justiça, senão injustiça qualificada e manifesta” (Cf. Oração aos moços). Essa frase justifica-se pela longeva violação dos direitos das populações dos gerais, vítimas das ações criminosas e dos constantes massacres perpetrados por agentes, tanto externos como internos à nossa região. São grupos gananciosos, ávidos por riquezas a qualquer custo e auferidas por meios questionáveis, do ponto de vista legal.

O chão do nosso Cerrado permanece encharcado de sangue e povoado por cadáveres de posseiros, ribeirinhos, povos originários e operários. Mas, de todo modo, é bom saudar e louvar a ação do Ministério Público Baiano e a intervenção do Estado, a despeito de tão tardia iniciativa. Como diz Tom Zé, em sua canção: “senhor cidadão”, “com quantas mortes no peito se faz a seriedade.”

Os nossos gerais têm se transformados em histórico palco de inúmeros assassinatos e execuções, motivadas pela ganância que se consubstancia no dinheiro, na corrupção, na reprovável esperteza, no compadrio e na condescendência de autoridades.


Incontáveis famílias expulsas, mulheres estupradas, vilipendiadas, assassinadas e enxotadas de seu próprio território. Face a tão triste, dramática e deplorável realidade, todos os poderes permaneceram inertes, senão coniventes ou desenvolvendo ações “tapa buracos.” A inércia reforça e dá amplitude à denúncia constante da canção de Zé Geraldo: “Tudo isso acontecendo e eu aqui na praça dando milho aos pombos.” A covardia e a complacência sempre foram companheiras de jornada dessa gente.

Malgrado o condenável atraso, não há dúvidas de que essa operação já começa a devolver-nos um fio de esperança. Porém, faz-se necessário profundar, buscar e investigar, até alcançar a ponta do iceberg, isto é, identificar e responsabilizar a cadeia dos mandantes, controladores da “grana que ergue e destrói coisas belas”, conforme canta Caetano Veloso. Os crimes perpetrados no chão do nosso Cerrado não são apenas contra pessoas, mas também são ações criminosas desenvolvidas contra a natureza e nosso ecossistema como um todo. Trata-se, em última instância, de crimes contra a humanidade.


Lembre-se de que o assombramento não é de agora. O cantor e compositor Tom Zé já havia alertado, em um de seus versos musicais: “com quantos quilos de medo se faz uma tradição.” No caso em tela, refiro-me ao medo como histórico mecanismo de submissão introjetada na alma do nosso povo. Aqueles que agem como destemidos são, invariavelmente, cínicos ou prepostos dos protagonistas e financiadores dos crimes fundiários e ecológico.

Obviamente seria injusto asseverar que todas as pessoas, ou que todos os grandes proprietários de terras dos gerais são criminosos e trapaceiros. Por outro lado, seria ingenuidade presumir que todos os proprietários de terras na região são bem intencionados. Recomenda-se prudência e prevenção, para não se cometer nem sofrer qualquer injustiça.

Ao matar os animais matam-se, consequentemente, as nossas fontes de água, os nossos lençóis, toda a biodiversidade e, por tabela, o próprio homem. Embora o jurista Ruy Barbosa tenha razão, reabilitemos o ditado popular que diz: “antes tarde do que nunca!”
A região da MATOPIBA é muito controversa, enquanto os grandes fazendeiros plantam grãos e fibras como: soja, milho e algodão, para virar commodities, que vão para a estrada até o porto de Aratu em Salvador e de lá ganhar o mundo. A população local continua pobre e sem pespectivas, a merecer do domínio político da violência e da destruição causadas por esse agro.
É tão controversa, que é só ir em Brasília e Goiânia que você encontra pessoas dessa região por lá, essas cidades 2 recebem pessoas de todo o Nordeste, mais da área da MATOPIBA tem muito mais. A nova fronteira agrícola tão promissora e as pessoas ainda saem dela para poder trabalhar, estudar e buscar atendimento na área da saúde, que controvérsia!
Excelente matéria! 👏👏👏👏👏👏👏👏👏👏👏👏
Parabéns, grande Antônio Rocha, pelo texto escrito num belo vernáculo, que expressa profundidade e, acima de tudo, urgência de uma ampla tomada de consciência da questão ambiental. A vida deve ser respeitada e não degradada como acontece no Cerrado do Oeste baiano e pelo país afora. Sem respeito ao meio ambiente não teremos futuro digno e nem mesmo futuro no sentido de subsistirmos como espécie. Respeitar a vida animal e vegetal, cuidar da nossa casa comum planetária, é cuidar da própria humanidade.