Publicado em 05/09/2024 às 17h41

Antonio Rocha.

A FÉ DOS EMPRESÁRIOS OU OS EMPRESÁRIOS DA FÉ?

Há coisas que fazem a gente matutar, como diz Zé matuto, na canção de Luiz Gonzaga. Principalmente quando se trata da palavra fé. Nesse universo, muitos são os que evocam a posse dela, enquanto outros seguem tentando entender o seu real significado e efeito, no coração dos homens.

Dizem que a fé é o que move. Assim definem os que detém o segredo das águas. É aquilo que move coisas e gente… É o alimento e o combustível da nossa jornada. Ela é o vento que toca a bandeira, impulsionando o barco a navegar. Mas, aqui, ao se referir à fé do empresário, diz-se daquilo que, na turbulência ou na calmaria, o faz crer sempre num vento bom, num bom tempo e numa boa saída. Isso é a vida… Nunca completa, nunca plena, enquanto o seu reino for desse mundo. Nesse aspecto, a fé é a certeza do navegador que, acreditando nunca navegar sozinho, se lança na aventura de singrar outros mares de investimentos.

Na vida empresarial nada é definitivamente seguro, completo, estável e certo. Se assim fosse, compreensível seria o jogo que joga o empreendedor. Este, joga sempre com a esperança, como num paciencioso trabalho de pescador! É o tipo que lança as suas redes, sempre convicto da captura de um peixe bom, para extrair do seu ventre o reluzente cobre. Disso, sabe o apóstolo Pedro… quando bem aconselhou os seus, a praticarem a pesca no mar da Galileia.

Na contra mão desse paradigma, navegam os Empresários da Fé, ao buscarem outro suporte referencial para negociar o seu atraente e testado produto, isto é, a fé… Entretanto, ao que nos parece, a fé é algo inegociável, já que não é bem uma mercadoria. Aliás, se há uma coisa que Deus não faz, é julgar pela quantidade. Prefere mesmo é avaliar a qualidade. É deste modo de ver as coisas que se convencionou e se correlacinou a medida da fé ao tamanho do grão da mostarda, como critério de mobilidade das montanhas. É o que disse Jesus…

Para os crentes, não resta dúvida, de que a fé é mesmo dom Divino! E só Deus pode doá-lo… Então, “dai de graça o que recebeste de graça,” diz a Escritura Santa… É pois, assim, que a gratuidade vai se tornando chave, referência e bússola do caminhar dos que crêem. Diante disso, como posso mercadejar em cima da gratuidade? Como posso lucrar explorando a fé? Ora, se é assim, então a terminologia: “Os Empresários da Fé” não faz sentido, e só pode ser um contra senso e afronta ao Evangelho, Já que não só de lucros vive o homem, mas sim da coerência profunda e subordinante à Palavra Sagrada.

Se a fé dos empresários multiplica bênçãos e graças por um lado, por outro, a graça dos Empresários da Fé, multiplica prestígio e tesouros na terra… Porque, para estes, a fé parece ser mesmo o seu grande capital. Este é o mecanismo pelo qual se dão bem, operando numa sociedade que deixou se guiar pela lógica da espiritualidade do consumo. Rezando o credo da acumulação nossa de cada dia e, repetindo a jaculatória do ter, poder e glória, pelos séculos dos séculos sem fim. Claro, eles rezam para ingressarem no reino das elites, que investem no Paraíso fiscal.

Antonio Rocha

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