Publicado em 5/10/2025, às 11h05.

Antonio Rocha.
Possui graduação em Filosofia pela PUC Goiás, graduação em Direito, Licenciatura em História, Curso Seminaristico de Filosofia pelo Instituto de Filosofia/teologia de Goiás, Curso livre em Teologia (1993), especialização em Filosofia Clínica, e mestrado em Ciências da Religião pela PUC Goiás. Ex- Professor efetivo da PUC Goiás, foi professor convidado do Instituto de Filosofia e Teologia de Goiás.

BEM-TI-VI: O HOMEM DA LUZ, DO LIXO E DO LUXO.
Por Antonio Rocha.

Foto: Valdivino Pereira de Souza – Bem-ti-vi

A reflexão de hoje não é sobre aquela ave de canto inconfundível, mas sobre uma alma humana de excepcional valor, carinhosamente chamado de Bem-ti-vi. Natural de Santa Maria da Vitória, filho de José e Martinha, seu nome é Valdivino Pereira de Souza. Contraiu matrimônio com dona Irene e o destino o conduziu para Correntina. Bem-ti-vi era um cara extremamente genial, inventivo, criativo e bem humorado. Típico ser humano capaz de estabelecer contatos e construir relações sociais por onde passava.

Foto: Valdivino Pereira de Souza – Bem-ti-vi

Foi assim que tornou-se figura conhecida na cidade e demarcou território graças à competência no exercício de sua função pública. Deu continuidade à profissão de coletor de lixo na cidade, anteriormente desempenhada pelo seu sogro, o simpático pernambucano Raimundo.

Bem-ti-vi percorria as ruas recolhendo e acondicionando o lixo numa carroça, conduzida por uma junta de bois. Os resíduos recolhidos eram descartados num local denominado Buracão, local de tristes memórias e muitas histórias. É que, com o tempo, transformou-se no último refúgio dos pobres onde, às duras penas, erguiam seus precários barracos. No período diurno conviviam com os urubus, e no noturno, com o forte odor oriundo das carniças. Para o leitor ter uma ideia, o endereço dos desafortunados situava-se aos fundos de um colégio municipal e fronteiriço com o cemitério velho, localizado no Bairro São Lázaro
Após o extenuante trabalho, Bem-ti-vi passou a promover o embelezamento da cidade, cuidando da grama e dos Jardins de Correntina. O fazia com muito bom humor, mexendo e brincando com todos que eventualmente encontrasse pelo perímetro urbano. Antes de mencionar as próximas características do nosso personagem, vale um breve registro. Antes de Bem-ti-vi utilizar a carroça com pneus de caminhão para o trabalho da coleta do lixo, os trabalhadores usavam um carro de bois, numa situação de precariedade ainda maior que a por ele exercida.

Foto: Residência de Bem-ti-vi no Bairro São Lázaro – Correntina-BA.

fO sogro de Bem-ti-vi foi o primeiro lixeiro da cidade de Correntina, nomeado pelo então intendente/prefeito Major Felix, segundo informou Manoel Messias. Quanto a esses detalhes, há controvérsias, pois Lino lixeiro ou Lino do boi, também é considerado primeiro gari da cidade. Não restam dúvidas de que Bem-ti-vi colocou sua própria família na função de gari, atividade recusada pela maioria das pessoas, devido ao preconceito e à discriminação. Ato contínuo, Bem-ti-vi prestou outro relevante e valioso trabalho, iluminando a vida e a cidade de Correntina. Ocorre que ele era o oficial acendedor das luzes da cidade. Para tal, saía ao fim do dia com um bastão na mão, para conectar a canela e fusível em cada transformador de energia. Ao final da noite, antes do romper da aurora, às quatro da manhã, Bem-ti-vi ia desligar as luzes da cidade, revisitando cada rua, transformador por transformador, para desconectar as canelas. Convém lembrar que ainda não haviam sensores inteligentes. Bem-ti-vi fez isso anos a fio, diuturnamente, inverno e verão, de forma incansável.

Quando alguma lâmpada queimava, Bem-ti-vi pedia ajuda de um filho para carregar uma enorme escada, com o objetivo de restabelecer a normalidade. Costumeiramente, se deslocava assoviando, falando pilherias, mas atento ao próprio trabalho.

Foto: Oratório de Bem-ti-vi.

Multitarefeiro, o nosso homenageado também foi coveiro e confeccionador de caixões para defuntos pobres. Com seu altruísmo construía, doava e enterrava os defuntos indigentes. Apesar de suas extenuantes e diversificadas tarefas, essa grande figura levava a vida com leveza, com alegria, com disposição e bom humor. Bem-ti-vi é mais que um personagem, é uma referência, um benfeitor da nossa cidade. Um funcionário público exemplar, prestador de um serviço relevantíssimo, necessário e indispensável aos cidadãos. A seu modo, cuidou da saúde publica, exercitando a misericórdia e distribuindo alegria. Além de um ser humano altivo, a sua família cultiva até hoje os mais nobres valores do cristianismo católico. Com um rápido olhar, é possível ver, no canto de sua casa, um belo oratório repleto de santos e santas do céu.

Foto: Time de futebol promovido por Bem-ti-vi.

À guisa de conclusão, é bom sublinhar que, mesmo enfrentando todas as exigências do cuidado da família e do trabalho, Bem-ti-vi ainda encontrou tempo para o esporte. Fundou, organizou e estruturou um time de futebol, onde os casados jogavam contra os solteiros da cidade. Com isso promoveu diversão e entretenimento no município. É por essas e outras que Bem-ti-vi é um verdadeiro ícone, patrimônio imensurável da cidade de Correntina

2 COMENTÁRIOS

  1. Muito bom! Conheci soe Bem-ti-vi. Um homem sensacional. Tive o prazer de ser amigo de Neném, filho dele onde tocamos em uma banda juntos. Tempo bom para se viver, apesar das necessidades básicas do tempo. Que eles estejam em um lugar muito bom espiritualmente.

  2. Realmente um homem simples, vivia assobiando e passava para todos uma energia boa.
    O seu apelido, faz jus a pessoa dele.

    Que Deus abençoe todos os seus filhos e esteja bem .

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