Publicado em 05/06/2024 às 14h06

Por Antonio Rocha Franca.

BERRA LOBO E PORTELINHA (entre o  Sonho e a Realidade).

No Berra Lobo, o Lobo já não berra e nunca berrou…  Já que Lobo uiva. No caso em questão, trata-se de um bairro cravado na ladeira da saída pra Goiás. Ali não se ouve uivos, mas, gritos de gentes lá do morro, acenando pra cidade lá embaixo.

Já, a Portelinha, apesar da elegância do seu nome, revela por trás do seu título desolação e sofrimento, escondidos na fragilidade do pulsar da vida e das oportunidades. De fato, a Portela, não obstante a exuberância e expressão do seu nome, mostra por outro lado grande estreiteza de oportunidades. É uma pequena porta por onde quase nada se entra e que é preciso alargá-la. Exato ali! Na Portela e no Berra…!  Ali se vê os pobres se aglomerando e se escondendo como que verdadeiras rochas preciosas, a espera de lapidação.

Sabe-se que no Brasil, tal como em muitas partes do mundo, anulam-se talentos. Mas Correntina não pode navegar nessa contramão, ainda mais quando se percebe que por toda parte do planeta há um clamor aos céus, contra o imoral desprezo e a indecente negação dos invisibilizados da terra…  E nós? Nós somos todos corresponsáveis: autoridades e civis, leigos e consagrados.

Reconhecimento e dignidade são binômio emitido pelos sons daquela gente, fazendo eco aos nossos ouvidos nos quintais das nossas casas. É que, nos bolsões de miséria esparramados pelo país afora, há verdadeiras pedras valiosas a serem lapidadas e não dilapidas à nossa espera; da minha, da sua, de todos nós…  Estão aptas a se tornarem verdadeiras joias nas mãos do joalheiro, para enriquecer o Brasil e o mundo de muitos talentos, cultura, ciência e humanidade.

Sendo assim, faz-se necessário fazer o povo sonhar. E sonhar grande como sonharam os grandes líderes da humanidade: Madre Tereza de Calcutá, irmã Dulce dos pobres,  Monsenhor André Bérénos, Martin Luther King e tantos outros…  Se no uivo do Lobo está posta a voz da convocação para o encontro da alcateia, no grito das periferias está o chamamento da nossa atenção, para um olhar mais generoso e justo para com a realidade dos despossuídos.

Sim, por que há ali crianças e jovens que reclamam por oportunidades e realizações. E que reivindicam poderes, para no mínimo fazer valer os seus direitos mais elementares, como: alimento, estudo, trabalho e lazer. Os estigmas matam! O olhar compassivo eleva…! É o que se quer. Quer-se a elevação da autoestima daqueles que moram nas extremidades da cidade, pra que possam vislumbrar futuro e qualidade de vida. Isso é impossível? Não! É utópico? Sim! Mas, factível de realização. Sufocá-los é um desperdício e desprezá-los é um crime contra um futuro de prosperidade, justiça, partilha e autonomia.

Antonio Rocha Souza – Possui graduação em Filosofia pela Pontifícia Universidade Católica de Goiás – PUC Goiás (1995), Curso livre em Teologia (1993), especialização em Filosofia Clínica, pelo Instituto Packter(2000) e mestrado em Ciências da Religião pela PUC Goiás (2001). Professor efetivo da PUC Goiás, foi professor convidado do Instituto de Filosofia e Teologia de Goiás, Tem experiência na área de Teologia, com ênfase em Teologia Pastoral e na área de Ciência das Religiões, com ênfase em afro-descendência.

8 COMENTÁRIOS

  1. Mais uma contribuição de Antônio Rocha de Souza para a compreensão da realidade de nossa cidade, numa escrita, leve, profunda, desarmada de preconceito e hipocrisia, sem ostentação, sem charlatanismo e sem atentar contra o vernáculo como é o costume em Correntina. Parabéns a Antônio Rocha de Souza pelo texto e ao Jornal de Correntina pela publicação. Aguardamos outros textos de Antônio Rocha de Souza como contribuição para a análise da nossa triste realidade, livre do contágio da politicagem reinante em nossa cidade.

  2. O colega-amigo articulista, Antônio Rocha, brinda a cidade de Correntina com tão belo e bem articulado texto. A sua performance faz jus ao seu preparo intelectual, aprimorado pelas faculdades de Filosofia, teologia e Direto. Sem contar alarga experiência na docência superior.
    Parabéns pelo antigo, colega!

  3. Excelente texto, que não é fácil compreender, mais para mudar a “velha política Correntinense” devemos mudar o nossos pensamentos. Não podemos mais olhar com esperança para a saída para Goiás, onde o que nos espera são as periferias. Temos que lutar aqui e por aqui.

  4. Parabéns Antônio pela excelente reflexão sobre as dificuldades enfrentadas por esta comunidade e a questão do subaproveitamento do potencial humano nesses locais. A crônica foi bem elaborada, abordando com sensibilidade e profundidade um tema tão relevante e urgente.

  5. Excelente texto, só que para acabar com a ” velha política” devemos mudar o jeito de pensar em política. O futuro não está na saída para Goiás, que só nos resta as periferias, o futuro é aqui, temos que lutar por aqui!

  6. Este é um texto em que disserta sobre a população de Correntina, precisamente os moradores da Portelinha e Berra lobo. Excelente palavras, claras e objetivas, mostrando a realidade do povo, não só destes dois bairros, mas sim, a verdadeira situação da maior parte do povo dessa cidade.

  7. Um texto maravilhoso o qual reza piamente a dura vida dos que moram nestes bairros.Um chamado a responsabilidade de todos. Parabéns! Você não sabe do orgulho que tenho de ter sido sua professora no quarto ano primário.Sorte meu amigo!

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