Publicado em 1º/9/2025, 6h15.

Antonio Rocha.
Possui graduação em Filosofia pela PUC Goiás, graduação em Direito, Licenciatura em História, Curso Seminaristico de Filosofia pelo Instituto de Filosofia/teologia de Goiás, Curso livre em Teologia (1993), especialização em Filosofia Clínica, e mestrado em Ciências da Religião pela PUC Goiás. Ex- Professor efetivo da PUC Goiás, foi professor convidado do Instituto de Filosofia e Teologia de Goiás.

CECILIA, A ESTRELA CAMPESINA DO OESTE BAIANO.
Entre tantas mulheres dignas de contínuos aplausos, devido ao histórico de lutas em defesa dos direitos e da dignidade dos povos, uma com maior destaque na região é Cecília Almeida. Destemida pernambucana radicada em Correntina, somou a voz e a energia às demandas dos povos originários locais.

Foto: Acervo Antonio Rocha.
Foto: Acervo Antonio Rocha.

Trocou o Pernambuco por Correntina no início dos anos 80, quando o município correntinense era um caldeirão efervescente de conflitos fundiários e a grilagem ocasionava a violência no campo. A escalada de assassinatos de trabalhadores rurais e suas lideranças foi ocasionada pelo famigerado programa de reflorestamento, instalado no Oeste baiano. Naquele contexto aparecia Cecília, mulher expansiva, articulada, corajosa e preparada nas lutas das comunidades camponesas pernambucanas. Como braço direito do saudoso padre André Bérénos, Cecília recebeu a incumbência de organizar as Comunidades Eclesiais de Base, fortalecer a luta no campo e promover as Pastorais Sociais da Paróquia Nossa Senhora da Glória, em Correntina. A partir de então, Cecília organizou e estruturou grupos, dinamizou movimentos, promoveu encontros, dirigiu assembléias, representou a Paróquia nos eventos locais e regionais, bem como nas demandas nacionais. Sua experiência serviu de base para a criação de um dos maiores organismos de luta e defesa dos camponeses, o Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Correntina.

Foto: Acervo Antonio Rocha.
Foto: Acervo Antonio Rocha.
Foto: Acervo Antonio Rocha.
Foto: Acervo Antonio Rocha.

É óbvio que apenas uma mulher da envergadura de Cecília seria capaz de tamanho feito. Ela liderava as romarias, as lutas e os enfrentamentos aos grileiros, as diligências no Fórum de Justiça e as lides fundiárias. Grande mediadora de conflitos, às vezes deslocando-se da sede municipal para mediar contendas trabalhistas entre empregadores das empresas reflorestadoras e empregados, entre posseiros e fazendeiros. Mulher das rezas, dos terços, das novenas e das cantilenas do sertão baiano, Cecília atuava em diversas frentes.

Foto: Acervo Antonio Rocha.
Foto: Acervo Antonio Rocha.

Essa valente guerreira estava sempre à frente dos grandes eventos e na inarredável busca pela justiça. A solidez de muitas organizações que chegaram até os nossos dias, em Correntina, deve-se ao empenho da nossa homenageada. Vale lembrar que a imagem de Cecília está intrinsecamente associada à imagem de um dos maiores ícones da luta sindical de nossa região e do país. Refiro-me a Wilson Furtado, companheiro a quem Correntina é moralmente tributária. Firme e combativo, dedicou parte da vida às lutas camponesas e ao povo de Correntina, enquanto dispôs de condições vitais. Hoje, seu corpo jaz sob a avermelhada poeira do nosso chão.
Como Dandara e Zumbi dos Palmares, as histórias de Cecília e Wilson Furtado confundem-se e jamais poderão se dissociar. A luta campesina, em Correntina, tem a marca das ações desses dois expoentes, em sua incansável busca de justiça. Em muitas situações de embates, Cecília é que liderava, intervindo, antecipando e dissuaindo daqueles que pretendiam atentar contra a vida do líder sindical.

Foto: Acervo Antonio Rocha.
Foto: Acervo Antonio Rocha.
Foto: Acervo Antonio Rocha.
Foto: Acervo Antonio Rocha.

Algumas tentativas de assassinato do sindicalista Wilson Martins Furtado foram abortadas, exatamente devido à perspicácia e das reiteradas intervenções dessa brava mulher. Tanto que, enquanto nas celebrações das Comunidades Eclesiais Cecília encarnava o jeito da irmã Dulce dos pobres, nos embates sociais e nos conflitos agrários, ela encarnava a coragem e o destemor da sindicalista Margarida Alves, a coragem e a inteligência da comunista Olga Benário, executada pela polícia alemã do regime nazista. Por fim, é justo apontar que Cecilia, Wilson Furtado e Paulo Oisiovici formavam, à época, a trilogia no combate à exploração e na defesa das Comunidades dos Gerais.

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