Publicado em 12.12.2024 às 14h06.
Por Antonio Rocha.
EXEMPLO DOS PAIS, ESCOLA DOS FILHOS.
Era manhã de domingo, quando eu e um casal de amigos usávamos a faixa de pedestre, em uma cidade alemã. Naquele momento não havia sequer um carro na pista, apenas nós, pacientemente, aguardando o sinal do semáforo, que contava os segundos para a transição das cores. Aquilo parecia uma eternidade. Foi quando me apressei a tirar vantagem da situação, instando os meus amigos a atravessarmos logo, mesmo com o sinal vermelho para nós.
Ao perceberem o meu equívoco, fui imediatamente repreendido e aconselhado a olhar as crianças a nos observarem. Nós adultos somos espelho e referência para elas, de modo que, se transgredirmos a lei “furando” o sinal fechado, as crianças aprenderão a reproduzir nossas ações. Ouvindo aquilo, confesso que, por um momento, senti-me moralmente constrangido.
Naquele instante lembrei-me dum famoso provérbio chinês: “a palavra convence, mas o exemplo arrasta.” À luz do que me aconteceu em terras estrangeiras, tenho percebido que em Correntina o fluxo de automóveis vem aumentando significativamente. De resto, as infrações dos condutores crescem na mesma proporção, impulsionadas por certos comportamentos absolutamente reprováveis. Refiro-me à despreocupação com as normas de trânsito e à ausência de civilidade. Quase cotidianamente vemos crianças sendo transportadas em cima de tanques de combustível e em garupas das motocicletas, irresponsavelmente desprotegida.
É comum vê-las prensadas entre os pais, sobre um veículo de duas rodas. Em geral não usam capacetes, trafegando ao sabor da sorte ou da certeza da impunidade. Como diz o ditado: “comportamento dos pais, escola dos filhos”. Assim, essas crianças aprendem dos pais o jeito não aconselhável de viver. Face a essa realidade, vejo multiplicar o número de acidentes com vitimas fatais, dentro e fora de Correntina, tanto nas vias de alta velocidade, quanto nas ruas da nossa cidade. Tudo por conta deste fatídico e reiterado hábito de ignorar as leis e as regras. O famoso educador brasileiro já dizia: “ninguém educa ninguém, ninguém se educa sozinho; nós nos educamos em comunidade”. Sem dúvidas, somos todos corresponsáveis pela educação das nossas crianças: os pais, o Estado e a sociedade.
Porém, em função desses infratores e da negligência das autoridades, nós continuamos a testemunhar mortos e mutilados. Enquanto isso e por causa disso, o índice de acidentes graves só aumenta.
Para justificar essa situação, não se pode usar a carência e a pobreza da nossa gente, pois negligenciar a defesa da vida, principalmente de crianças, jovens e idosos, não há justificativa. Espera-se da sociedade bom senso, e das nossas autoridades, o zelo pela segurança do trânsito e da vida das pessoas. Não se trata de punir para educar; pelo contrário, primeiro educar, e só depois punir, se for o caso. Fazer vistas grossas ao erro, com o intuito de garantir votos no curral eleitoral, não é ético, tampouco ajuda na mudança de hábitos.
O que se propugna é uma sociedade mais segura e saudável. Vislumbro uma Correntina capaz de acordar para os seus problemas, e que as autoridades invistam em planejamento e ações educativas no trânsito, para o bem maior de todos(as).
Essa questão não é de educação é uma questão cultural, em uma cidade pequena no sertão da Bahia, como correntina, onde os órgãos competentes não fiscalizam, cria uma cultura de impunidade. Todos por aqui sabe que se uma criança ou adolescente independente da idade já conseguir se equilibrar ne uma moto já pode pilotar, com o consentimento dos pais. Errado é, quem tem uma CNH sabe as leis e normas de segurança no trânsito, infelizmente por causa dessa cultura ocorrem acidentes. Por fim, para reverter essa situação não basta campanhas educativas, a lei tem que ser executada.
Luka, Paulo e Gilson… Sou-lhes grato pelos posicionamentos! Vejo que vocês trouxeram elementos novos para o debate. É isto que importa…
Obrigado e parabéns por mais este excelente texto, Antônio Rocha de Souza. És um dos raros correntinenses a fazerem jus à sua formação acadêmica, política e cidadão com produção escrita de qualidade e coerência entre o que defende e sua prática como cidadão. Dito isto, peço-lhe licença para apenas uma observação quanto ao seu texto.
Se o exemplo arrasta, como dizes, ao garantirem a impunidade não só aos infratores das leis de trânsito, mas aos políticos corruptos e seus crimes corriqueiros contra a República, as autoridades dos poderes legislativo que deveria fiscalizar o executivo e o judiciário, que deveria puní-lo, são os principais responsáveis pelo exemplo da corrupção entranhar-se a tal ponto na sociedade de Correntina-BA que a democracia tornou-se apenas uma palavra sem qualquer significado concreto, resultando no fato de a eleição deixar de ser a escolha ou manifestação da vontade do povo, para reduzir-se à mercância de favores, vantagens, dinheiro e do voto. Eis a verdadeira face da fraude na qual se constitui a institucionalidade no sistema capitalista tupiniquim e correntinense.
Só verdades!