Publicado em 19/01/2025 às 16h20.

Foto do primeiro caminhão da Prefeitura de Correntina, apelidado de LECHEBA.

Por Antonio Rocha. O LECHEBA DA PREFEITURA DE CORRENTINA.

Qual foi mesmo o caminho ou descaminho do primeiro caminhão de Correntina? Era uma bela “máquina” de cabine preta, carroceria curta, pneus finos e alavanca externa para fazer a ignição dar partida. Eis uma preliminar descrição do primeiro caminhão da prefeitura de Correntina. Era, de fato, algo charmoso e atraente. Um encanto, uma “belezura” adquirida pelo poder público, na administração do então prefeito Manoel Vieira. Conta alguns remanescentes, que ante o anúncio de sua chegada, a população correu toda excitada para recepcioná-lo, com músicas, fogos de artifício e euforias. Até o prefeito e a primeira dama desfilaram juntos, a bordo do caminhão, pela cidade.

Diante aquilo, os curiosos se aglomeravam, com incontidos desejos, dando asas à criação de várias anedotas. A par disto, conta-se que nesse dia um curioso cidadão chegou até mesmo a deitar debaixo do novo carro, tentando examinar as suas entranhas e as suas partes íntimas. E que, depois de ter observado bem o diferencial e a “vara” do eixo cardan, exclamou: é macho mesmo! Outro personagem, querendo ampliar ainda mais o número de anedotas, saiu dizendo que o chofer, certa vez, após ter estacionado próximo à feira, deparou-se com um homem fumando, e aos gritos disse: você não está vendo desgraça, que fumando aí o carro pode pegar fogo?!!!

Sem dúvidas, aquele caminhão era um patrimônio reconhecido e estimado pela população. Soube, pela boca do Hélverton e de outros, que o seu primeiro chofer foi Arnaldo Ferreira, e este andava sempre com um ajudante ao lado, para fazer girar o motor. Isso mesmo, porque para funcionar aquilo era preciso braço para tocar a manivela do lado de fora, na frente do capô do carro. Exigia-se cuidado redobrado, pois qualquer descuido, lá se ia os dedos, mãos e até braços. Não foram poucas as histórias de acidentes, por conta deste oficio mal oficiado. Muita gente teve os braços arrancados num piscar de olhos, mas, a respeito de algum acidente produzido pelo referido caminhão, nunca tive notícia de algo mais grave.

E, assim, a cidade sorria feliz, com o seu novo artigo de luxo. Estava ali a nova “máquina” para fazer o serviço de arrastar, transportar, carregar, conduzir e tudo mais. Isto durou muitos anos, até um dia o caminhão cansar e virar “lecheba”. De fato, o pobre começou a sofrer de todos os achaques e doenças, com sua saúde automobilística só piorando. Era vazamento de óleo, travamento do diferencial aqui, defeito na ignição acolá, as rodas começando a ficar zambetas. Por fim, passou a ficar ruim das vistas e já não enxergava mais, com os faróis queimados. Enfim, para não mais ouvir os gritos humilhantes de: “lecheu” “lecheu”..! Enfurnaram o pobre carro na solidão de uma garagem velha, ao lado da delegacia de policia.

Ao final, com pneus murchos, pintura fosca, motor cansado, ficou ele lá, esquecido, ignorado largado. Até que um dia anoiteceu e não amanheceu e aquele caminhão, que trilhou tantos caminhos, descaminhou-se, perdeu o rumo, rumou para outras bandas e não se sabe para onde.

Certo é que o nosso xodó desapareceu. Foi descartado como qualquer coisa sem serventia, sem valia, sem importância. Bem que importância ele tinha, até porque a nossa memória precisa dele. Talvez ele valha hoje, para a população correntinense, tanto quanto valeu naquele tempo. É que aquele caminhão ainda carrega um imenso valor afetivo para nós, além de compor parte da nossa história.

Antonio Rocha.
Texto de Antonio Rocha.

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