Publicada em 26/05/2025 às 22h13.
QUANTA FALTA FAZ WILSON MARTINS FURTADO.
Maior líder sindical da nossa região, co-fundador e primeiro presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Correntina-Ba. Forjado no idealismo do autêntico comunismo e instruído nas lutas revolucionárias antagônicas ao regime ditatorial, Wilson Martins Furtado escolheu o lado dos perseguidos.

Dedicou-se integralmente às causas operárias e campesinas, alternando sua peleja entre o chão vermelho do campo e o piso cinzento das fábricas em São Paulo. Conheci Wilson lá nas brenhas dos gerais, percorrendo trechos, conduzindo tropas e lavrando o chão. Ele havia sido designado pelo Partido Comunista do Brasil (final da década de 60), com o propósito de formar bases partidárias na Comunidade do Couro de Porco e, com isso, apoiar a Guerrilha do Araguaia.

Ali, Furtado estabeleceu-se, conquistou o coração e a confiança de todos os segmentos dos trabalhadores, somando-se a deles na camaradagem, na solidariedade e na luta em defesa da coletividade. O fez não sem antes ter se habilitado em Cuba, Thecoslováquia e Romênia, conhecido e estudado os meios e os métodos marxistas de luta contra a repressão. Municiado de uma invejável bagagem empírica e intelectual, instalou-se no cerrado, região limítrofe entre Correntina e Posse/G. Além de outros companheiros de estrada, Wilson fez-se acompanhar do seu inseparável companheiro e assessor, Paulo Oisiovici do PC do B, jovem responsável pela fundação e confecção do Jornal “A Foice.”

Veículo que funcionou como instrumento de comunicação e denúncia, voz ampliada dos posseiros e associados sindicais da região de Correntina. Esse instrumento de comunicação correu o mundo chegando até a Albânia, com tradução em diversas línguas.

Naquele longínquo lugar, marcado pela poeira e pelo típico cheiro do homem que produz o sustento da família, vivia Wilson Furtado. Exatamente ali o visionário padre André Fráns Bérénos descobriu e encontrou o homem certo que viria a fazer frente à realidade de opressão e absoluta exploração sofridas pelas comunidades rurais. Essa dupla idealizou e efetivou a fundação do STR, instrumento imprescindível ao fortalecimento da luta camponesa contra a grilagem de terra.

O Sindicato iniciou-se com uma surpreendente onda de filiações, tamanha era a urgência de sua fundação. Devotando-se diuturnamente à causa dos posseiros e geraizeiros, Martins Furtado enfrentou perseguição armada, emboscadas, veladas ameaças, tentativas de extorsão e subonrnos. Apesar disso, Wilson não sucumbiu ante a estratégia dos exploradores, preservando-se conforme os princípios éticos-políticos.

Contínuas e intensas batalhas foram por ele enfrentadas perante os tribunais, e/ou nos confrontos com grileiros, fazendeiros, empresários rurais e outros detentores de capitais. A despeito das pressões e das ameaças, Wilson Furtado tinha ojeriza ao peleguismo e à condescendência com a exploração, rural ou urbana. A conquista da aposentadoria rural sempre foi objeto de luta, principalmente durante a ditadura militar, mas Wilson jamais submeteu-se a qualquer barganha para consegui-la. Tudo resultou-se da aguerrida luta coletiva, liderada por Furtado. Um dos fatos que mais me surpreendeu foi a parceria formada entre um padre e um comunista, visando a defesa campesina.

Naquele contexto da década de oitenta, o Sindicato tornou-se um referencial de organização combativa, operante e resistente à voracidade da elite fundiária. Apesar da repressão do final da ditadura militar, o Sindicato, liderado por Wilson Furtado não retrocedeu.

Pelo contrário, houve um recrudescimento do combate à grilagem e à injustiça no campo. É de um líder da envergadura de Wilson que Correntina carece, razão pela qual tem prevalecido certo vácuo de legítima liderança social. É de um instrumento forte, representativo e combativo que os povos dos gerais necessitam. Quanta falta faz um Wilson Martins Furtado, quando nos referimos à defesa, à garantia e à manutenção dos direitos da classe trabalhadora correntinense.
Para saber mais consulte:
AUGUSTO, Everaldo. Semeador de Liberdade: Wilson Furtado, Vida e Luta. Salvador: Assembléia Legislativa, 2014
JORNAL O POSSEIRO. Ano V – nº 40 Santa Maria da Vitória – Bahia – Julho 1983
JORNAL A FOICE. Ano 3 nº 10, dezembro de 1983. Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Correntina-Ba
BOLETIM Comissão Pastoral da Terra (ligado a linha e da CNBB), Nº 58 Janeiro/fevereiro 1982
LIVRO TOMBO. Arquivo da paróquia Nª Sª da Glória de Correntina-Ba, 1979
Wilson Martins Furtado foi um homem bom!
Parabenizo o ilustre amigo e sempre querido Pe. Antonio Rocha pela excelente matéria sobre Wilson Martins Furtado. Saliento que é com grande respeito e admiração que recordo a luta de Wilson Martins Furtado, um homem que dedicou sua vida à defesa dos direitos dos trabalhadores rurais e à resolução de problemas relacionados à posse de terras. Tive o privilégio de trabalhar ao lado dele, como Delegado de Polícia, e juntos solucionamos vários desafios que afetavam a comunidade, especialmente aquelas menos favorecidas.
Wilson Martins Furtado era um defensor aguerrido dos campesinos, sempre lutando pelos seus direitos e interesses, à época sendo assessorado pelo jovem e ilustre Paulo Oisiovici que de igual forma dedica a sua vida e mocidade pelas mesmas causas. A dedicação e paixão pela causa eram inspiradoras, e a amizade com Wilson foi um privilégio para mim e ajudou-me sobremaneira no cumprimento do meu ofício de mantenedor da ordem e segurança pública.
Também gostaria de destacar a figura do saudoso Monsenhor André Berenos, que considero um dos maiores correntinenses de todos os tempos. Suas obras e feitos em prol da nossa sofrida Correntina são um legado que continua a inspirar e motivar as gerações futuras. Sua participação direta nas causas sociais foram essenciais em suas pacíficas soluções.
A perda de Wilson Martins Furtado é um golpe para a comunidade, mas sua memória e legado continuarão a viver em nossos corações. Que possamos continuar a trabalhar juntos para defender os direitos dos mais vulneráveis e construir um futuro mais justo e igualitário para todos.
Parabéns reiterado insigne Antonio Rocha, grande cultor das histórias correntinenses!
GETÚLIO REIS