Publicado em 11/08/2025 às 15h35.

Antonio Rocha.
ANTÔNIO ROCHA: Graduação em Filosofia pela Pontifícia Universidade Católica de Goiás, Curso livre em Teologia, especialização em Filosofia Clínica, pelo Instituto Packter e mestrado em Ciências da Religião pela PUC Goiás.

SENHORINHA, A IRMÃ DULCE DOS ANIMAIS DE CORRENTINA.
Mais uma, entre tantas mulheres correntinenses de destaque. Refiro-me à nossa querida e inestimável Senhorinha. Trata-se de uma funcionária pública municipal, cuja vida é dedicada aos cuidados de pessoas e de bichos, de humanos e de não-humanos. Vale esclarecer que seu verdadeiro nome é Senhorinha Rodrigo. Na condição de técnica de enfermagem, cumpre o seu turno de trabalho no hospital municipal para, nos tempos vagos, sair à busca de outros pacientes, ou seja, dos quadrúpedes conhecidos como pets.

Faça chuva ou faça sol, dia ou noite, não importa, todo tempo e hora ela sai para acudir os animais nas praças, ruas, becos e avenidas. É lá que eles são feridos, doentes, maltratados e abandonados pelo próprio homem, principalmente depois de velhos e imprestáveis. Ao encontrá-los, Senhorinha os alimenta, cura suas feridas, recupera-os, devolvendo-lhes a alegria animalesca. Ela é capaz de reconhecer um por um, naquele contingente de mais de cem animais que vagueiam pelas ruas. Além disso, mantém sob seus cuidados mais de uma dezena deles, todos carinhosamente resgatados do abandono. Ao agir assim, com esse imenso coração transbordante de amor, Senhorinha age como a “irmã Dulce dos animais desprotegidos.” Guardadas as devidas proporções, ela pode ser considerada a versão feminina do famoso Francisco de Assis.

Quem não conhece o dito popular: “estou vivendo vida de cachorro.”? Apesar do dito, para esta Senhora a vida dos cães e de outros animais não precisa ser necessariamente ruim e sacrificada. Isto porque os animais também têm direito a uma vida digna, conforme previsão legal que deve ser consubstanciado nas ações éticas do homem.

De sua parte, Senhorinha segue lutando, labutando e insistindo em tocar para frente a franciscana vocação de defender a vida. Parece até que ser designada por uma força do alto, ou qualquer inspiração divina para a arte do cuidado. Ela que, por desígnio ou por admirável opção, percorre a cidade desde manhã, cumprindo a missão de visitar, tratar e alimentar uma multidão de cães na cidade, a maioria vítimas de maus tratos e da indiferença social.

Sua luta não vem de hoje. Todos os habitantes de Correntina certamente já conhecem a generosa dedicação desta senhora, que divide o seu tempo entre o emprego e a assistência aos animais. Entretanto e apesar disto, sua missão, seu agir e seus apelos ainda permanecem ignorados. A sociedade e as autoridades ainda não se sensibilizaram diante dessa nobre causa abraçada por Senhorinha. A fome, a miséria e a indigência, normalmente são realidades às quais poucas pessoas dispõem-se a enfrentar.

Por diversas vezes presenciei Senhorinha carregando água em baldes para dar aos cavalos cujos donos deixavam o dia inteiro amarrados nos troncos das árvores. Em outros momentos, eu a vi dando comida aos cães desfalecidos nas beiradas das calçadas. O coração de Senhorinha é maior que os desafios da solidariedade ou da falta desta, pertinente à defesa das grandes causas.

Este é o caso que ronda e salta à vista na cidade de Correntina. Realidade dura que Senhorinha, sozinha toma para si, gastando os seus parcos recursos no investimento, na recuperação e no tratamento desses pobres animais, invariavelmente encontrados nos grotões e nos becos da cidade. O mais gritante é que todos os pets são resgatados com a aparência esquelética, desnutridos e doentes. O seu exemplo de cuidadora é superior aos recursos materiais que lhe são disponíveis, o que serve de inspiração e velada cobrança à sociedade e às instituições.

Aliás, no atual momento, que falam-se tanto em ecologia integral e cuidados perante o planeta e tudo o que há sobre ele, faz sentido defender a dignidade dos animais. Além do que, a luta de Senhorinha não se reduz à busca de animais abandonados pelas ruas. Ela faz da própria casa uma espécie de extensão do lar dos pets, tratando-os com doses altíssimas de amor e de bem querer.

Embora a iniciativa de Senhorinha seja louvável, ela sozinha não dá conta. É preciso mais que isso, pois fazem-se necessários cuidados veterinários, sanitários e assim por diante. Precisa, sobretudo, de quem dê mais organicidade e planejamento a esse belo trabalho de Senhorinha. Talvez a criação de uma Associação ou ONG, com vistas a uma melhor e perene assistência, tal a relevância de uma atividade tão importante como essa.

6 COMENTÁRIOS

  1. Criar cachorro nas portas alheia é fácil isso só aumenta população de animais abandonados às ruas…

    O município precisa tomar providências pra recolher esses animais pra um local público e seguro pra sejam acolhidos, alimentado, testados, castrados e colocado pra doação…

    Quanto aos doentes em fazer terminal precisa aplicar a eutanásia pra evitar proliferação de doença entre os cães e o ser humano que usa o mesmo local que eles usam pra se alimentar e ou dormir.

  2. Grande texto para uma pessoa que há tempos merece reconhecimento. Trabalhei com ela no resgate de vários cachorros e tentamos, a várias mãos, fundar uma ONG. A “Bichinhos do Cerrado” enfrenta a decadência e a falência devido a desatenção da sociedade civil sobre a questão do abandono e maltrato de animais, e também a falta de interesse político em compreender que essa é uma questão de saúde pública. 0 JC deve continuar com essas denúncias!

    • No começo as pessoas até abraçaram a bichinho do cerrado, mas depois o engajamento acabou. Falta interesse dos governantes em ajudar tbm !

  3. Parabéns ao autor da matéria Antônio Rocha, por dar voz a essa história tão especial!
    Em meio à correria do dia a dia, muitas histórias de dedicação silenciosa passam despercebidas. Mas, felizmente, em Correntina existe alguém que nos lembra o verdadeiro significado de cuidado e amor incondicional: Senhorinha.
    Parabéns!💚

  4. Gosto muito de Senhorinha, uma pessoa do bem , e acho merecido o reconhecimento .
    Só não concordo em comparar ela com Irmã Dulce, tampouco cachorro com gente . Irmã Dulce cuidava de gente, e bicho nunca será gente . No mais, viva Senhorinha a protetora dos animais .

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