Publicado em 5/9/2025, às 14h49.

O PODER DA POESIA
Por Gecilio Souza

Do bolso da minha camisa
Saquei a velha caneta
Surrada mas funcionando
Carregada com tinta preta
Tirei um bloco de papel
Que trazia numa maleta
Rabisquei umas palavras
O que me deu na veneta
E compus alguns poemas
Sobre a vida e seus dilemas
Os guardei numa gaveta
Cada verso é uma marreta
Batendo no interior
Pancadas silenciosas
Ocultam a mão do autor
Mas trituram a pedreira
Que alicerça o pavor
Os fragmentos pontiagudos
Impressionam o construtor
Que os retira com cuidado
Pois no fundo está guardado
O fértil grão do amor

Um ânimo preservador
Nos versos se consubstancia
O sentimento mais profundo
Se expressa na poesia
Ela se faz interlocutora
Da alma que estava fria
E então passa a entender
O que o coração pretendia
Mede o tamanho da dor
Que neutraliza o amor
E torna a pessoa vazia

Quando o coração sorria
Alegrava a alma inteira
E o amor via outro amor
Porque não havia pedreira
Desde que ela se interpôs
Estabeleceu-se a cegueira
E o amor deixou de ver
O outro amor na fronteira
Então chegou a poesia
Com um golpe de filosofa
E abriu uma porteira
O amor sacudiu a poeira
E na alma o sol raiou
O grãozinho se eclodiu
Em planta se transformou
O terreno pedregoso
De galhos se ensombreou
O botão da autoestima
Logo se desabrochou
Nasceu nova consciência
A poesia foi na essência
E o amor se resgatou

Assim que se libertou
Da pedreira que o cercava
O amor fortaleceu
Aquele que o cultivava
E foi lançando grãozinhos
Na terra que nada dava
À medida que crescia
Com o outro se comunicava
Rompeu a rigidez extrema
Se revestiu do poema
Pois era o que lhe faltava.
Mais uma vez o notável amigo Gecilio Souza demonstra uma capacidade impressionante de capturar a essência da poesia e seu poder transformador. A forma como ele descreve a criação de um poema, desde a inspiração até a expressão dos sentimentos mais profundos, é verdadeiramente inspiradora.
A metáfora da “marreta” que “bate no interior” e “tritura a pedreira” é particularmente poderosa, pois ilustra a forma como a poesia pode penetrar profundamente na alma e transformar a dor e o medo em algo novo e fértil.
A descrição da poesia como “interlocutora da alma que estava fria” é também muito interessante, pois destaca a capacidade da poesia de se conectar com o mais profundo do ser humano e trazer luz e compreensão.
A forma como o poema descreve o processo de cura e transformação é também notável. A imagem do “grãozinho” que “eclodiu” e se transformou em “planta” é uma metáfora poderosa para o crescimento e a renovação.
Em resumo, o poema “O Poder da Poesia” é uma obra-prima que celebra a capacidade transformadora da poesia e sua capacidade de conectar-se com o mais profundo do ser humano. Gecilio Souza demonstra uma habilidade impressionante em capturar a essência da poesia e seu poder de cura e transformação.
Parabéns amigo, sou leitor assíduo dos seus BONS POEMAS E POESIAS, bem como das crônicas e escritos do ilustre Antonio Rocha, as quais nos conduz à Correntina de então!!!
Inestimável Getúlio Reis,
Obrigado pela gentileza, elegância e generosidade, traços característicos dos seus comentários. Comentários que, em regra, são tão substanciosos quanto os conteúdos avaliados.
Receba esse singelo agradecimento, enquanto o parabenizo pela destreza na escrita e pela capacidade de correlacionar os vários aspectos do texto.
Grande abraço!