Publicado em 12/12/2025, às 19h27.

Gecilio Souza – Graduado em filosofia pela PUC-GO, mestre em filosofia pela UFG, Bacharel em direito pela UniCEUB, professor, Cordelista e poeta.

A CAVERNA É AQUI
Por Gecílio Souza

Foto ilustrativa

Doxa é um termo grego
Utilizado por Platão
Ou seja, Senso Comum
Literalmente opinião
Antônimo de epistémè
Já desta a definição
É ciência ou filosofia
Profunda investigação

Que libertou da prisão
Aquele ser mitológico
Desde sempre acorrentado
No cativeiro alegórico
O episódio imaginário
De caráter antropológico
Repleto de simbolismo
E propósito pedagógico

O edifício metafórico
Que o filósofo construiu
Há uns 25 séculos
Está de pé, não caiu
A Alegoria da Caverna
Na qual Platão resumiu
Sua concepção dualista
Em duas dimensões dividiu

Foto ilustrativa

Quem nunca leu ou ouviu
Sobre a célebre Alegoria
Debatida e interpretada
Em aulas de filosofia
Saiba que ela reflete
O enredo do dia a dia
E aqui será explorada
Para efeito de analogia

Ela empresta à sociologia
O arcabouço instrumental
Para analisar os fenômenos
De ordem político-social
Cotejando os atos e os fatos
Sob o critério racional
E restará demonstrado
O quanto Platão é atual

Metáfora bidimensional
Sem prazo de validade
A Alegoria da Caverna
Exprime a dualidade
Interior e exterior
As trevas e a claridade
Realismo e idealismo
A ilusão e a verdade

Foto ilustrativa.

Neste caso a sociedade
É uma caverna ampliada
Dentro dela a maioria
Vive alegre e acorrentada
Nos labirintos da doxa
Na ignorância mergulhada
Sensível, reage ofendida
Caso seja questionada

Estima-se licenciada
Para opinar sobre tudo
Cultua a irracionalidade
Acha a ciência um absurdo
Faz do ódio argumentos
E da religião seu escudo
Defende a pena de morte
Com o tom de voz agudo

Se existe o tal chifrudo
Chefe do suposto inferno
Ele atua sobre a caverna
Onde o criminoso de terno
Defende a morte dos outros
Em nome do pai eterno
Ele próprio se absolve
Assim é o cristão moderno

Foto ilustrativa.

Vingativo e subalterno
Ao próprio instinto primário
Sua retórica é coerente
Ao padrão autoritário
Ofende a natureza humana
A gramática e o dicionário
Relativiza a vida alheia
Em prol do bem monetário

Olha todo adversário
Com olhos de viés torto
Revolta-se quando alguém
Questiona o seu conforto
Surta-se ao ver um pobre
No espaço do aeroporto
Cristãmente sentencia
Bandido bom é bandido morto

Foto ilustrativa

Discursa contra o aborto
E o pratica escondido
Um religioso histórico
Ou perverso convertido
Defende que o feto nasça
Mas depois dele crescido
Prega o seu fuzilamento
Se o considerar bandido

Justiceiro empedernido
Viola o que a bíblia ensina
Sobre o amor e o perdão
Com a justa disciplina
Porém o pseudo cristão
Na contramão da doutrina
Sai em defesa de massacre
Genocídio e/ou chacina

Foto ilustrativa.

A ignorância lhe domina
Não estuda por preguiça
E quer consertar a porta
Invertendo a dobradiça
O mau espírito confunde
A vingança com a justiça
Religioso de fachada
Sua alma fede à carniça

Coerência movediça
Não se mantém por um dia
Ele é o típico prisioneiro
Mencionado na Alegoria
Agride a quem questiona
Sua indefensável teoria
Encarcerado na doxa
Odeia a sabedoria

Da luz solar se desvia
Com cada olho ofuscado
Porque a epistémè choca
O cativo acostumado
Com as trevas da caverna
E não quer ser libertado
A sabedoria incomoda
Deixa o ignorante irritado

Lacrimejando e apressado
Tal o impacto nas retinas
Retorna ao seu comodismo
Moldado em velhas doutrinas
E julga a quem se liberta
À luz de suas lamparinas
Condena-o como insano
E crítico das “leis divinas”

Foto ilustrativa.

Faz defesa de chacinas
Massacres e genocídios
Com o nome de Deus na boca
Justifica os homicídios
E sua machista cegueira
Embala os feminicídios
Mas depois acena aos céus
Implorando subsídios

É uma espécie de ofídios
Que ostentam santidade
Medem o êxito da polícia
Pelo grau de letalidade
Mas agem com virulência
Contra a racionalidade
Ofendem a honra alheia
Em nome da liberdade

 

Tudo que lhes desagrade
É alvo da falsa moral
Julgam os outros e o mundo
Com o parâmetro pessoal
Porém se acham intocáveis
Acima do bem e do mal
Geralmente eles têm
Limitação intelectual

Mas a caverna afinal
Possui dupla dimensão
Uma é vista pelos olhos
E a outa pela razão
A aparência impressiona
Enquanto a essência não
Os sábios preferem a luz
E os tolos a escuridão

Foto ilustrativa.

Eis o núcleo da questão
Que é profundo por si
Muita gente o ignora
Vê menos que o jabuti
Porque a manipulação
Transforma o adulto em guri
Platão acertou na mosca
E a caverna é aqui

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