Publicado em 14/12/2025, às 19h50.

Breves comentários sobre a nova obra do escritor Hélverton Baiano.
Teoney Araújo Guerra
Recebi na sexta-feira passada (12/12), como “presente de Natal”, um exemplar do mais recente livro do nosso conterrâneo e membro da Academia Goiana de Letras (AGL), Valnir de Vercin, que, como escritor, usa o codinome Hélverton Baiano. O título da obra é “Cordel de Bugigangas e Geringonças”.

Assim que recebi o exemplar comecei a lê-lo, ou melhor, deleitar-me, ou seria, deliciar-me, com o seu conteúdo? E continuo lendo-o como se saboreasse um “dicumê” gostoso, feito em panela de barro e no fogão a lenha, servido quentinho, no prato esmaltado ou em uma gamelinha de madeira, em bolos de comida “amolengados na mão*” e após levados à boca sem pressa, mastigados vinte vezes ou mais, num deliciar sem fim. Utilizo essa analogia, “remedano” Valnir, na tentativa de imitar o seu estilo narrativo, o seu linguajar, que admiro e considero original, único.
Aliás, o nosso conterrâneo, que reside em Goiânia desde a adolescência, não esqueceu as suas raízes, e pelo que utiliza de palavras e expressões do nosso modo de falar, dos nossos costumes, das nossas lendas e tradições, que são a base da sua obra, dá a impressão de ainda morar aqui na “terrinha” até hoje. Hélverton Baiano é um autor diferenciado. Como poucos escritores brasileiros, Ele conseguiu criar não apenas um estilo pessoal, mas também um vocabulário próprio, inigualável, utilizando palavras e expressões regionais daqui do sertão da Bahia e de regiões tradicionais do Estado de Goiás. Muitos desses verbetes não constam em nenhum dicionário, mas são utilizados no linguajar popular; alguns, resgatados do “falar de antigamente”; já em desuso no dia a dia, mas que Ele – como historiador que é – mantém vivos, e dão um toque rústico, tradicional e original, às suas obras literárias.
Esse livro mais recente de Valnir, de poemas, que oculta nos seus versos e estrofes, artigos e crônicas, traz essas suas características. Nele, Valnir retorna ao que diz ter sido o seu início na literatura, O CORDEL, do qual se “desviou”, como afirma. E um cordel com características próprias. É uma coletânea de poemas com muitas “décimas”, todas iniciadas com um “mote”, bem como as outras construções poéticas, igualmente iniciadas com um “mote”. Considero-o um livro diferente dos que eu já li – não conheço toda sua obra: menos romântico, mais irreverente, questionador e até crítico; forte ao enfocar o lado sexual – bem ao estilo João Ubaldo Ribeiro -, e escrito numa linguagem sem papas na língua, debochada, escrachada, e por isso, o próprio autor alerta, em texto de apresentação da obra, não recomendar a sua leitura aos menores de 18 anos, nem a pessoas pudicas.
No mais, resta agradecer a Valnir pelo carinho que tem – e sempre teve – ao meu pai, a quem ele divide a dedicatória juntamente comigo.
*O termo “amolengados na mão”, criado pelo escritor Gilberto Freyre, fui buscar no livro Casa Grande e Senzala, do autor.





