Publicado em 03.08. 2024 às 06h30

Por Antônio Rocha Souza.
Por Antonio Rocha

O CONCURSEIRO.

Vida de Concurseiro é como vida de Ermitão. É árdua, paciente e penosa. Além de regrada, disciplinada e contemplativa… É como monge enclausurado nos mosteiros ou nas encostas dos rochedos, abrindo mão de tudo e das coisas de um mundo que não lhe interessa. Vivendo assim, ele se afasta da diversão, das companhias e dos agitos frenéticos da sociedade. E, como um asceta do deserto, abstêm-se do álcool, das badalações noturnas, e até dos desejos desejados por muitos.

Confesso que aprendi a admirar os Concurseiros. Mas do que isso… Aprendi a aprender a respeitar, venerar e, quem sabe, imitá-los. Eles são os novos místicos de um mundo urbanizado e contemporâneo. São os devotos da parcimônia e da sobriedade, se auto-educando pra a vida, na justa linha do equilíbrio e da simetria. Cuidando, desse modo, da boa saúde do corpo, da mente e da alma. Se não agem assim, decretado está o seu fracasso. Mas, o que realmente me impressiona neles são a paciência e a dileção. A repetição de cada passo, de cada centímetro e quilometro na rodovia do saber e da guarda do segredo do sucesso.

Também me parece que o seu sucesso não está na chegada, mas no percurso a percorrer. Eles, sim, são os arautos da esperança, que sabem bem exercitar as virtudes cardeais, principalmente a da paciência, não importando quantas vezes tenham que repetir, ler, reler, fazer, refazer, fracassar e recomeçar. Sim, estão sempre ali…! Sem se preocupar com o momento em que irão chegar e subir no pódio. Primeiro, importa a determinação, a disciplina, a aplicação e a calculada decisão. Eis aí um incomparável treinamento, para uma autocompreensão da pessoa humana.

O que encanta neles não é o alvo, mas, o escopo. É esse exato entusiasmo inquebrantável, que não se arrefece, mesmo com o risco do fracasso, que invariavelmente se repete. É isso tudo que me torna seu fiel admirador. Oxalá houvesse, em cada jovem e na humanidade em geral, um espírito de Concurseiro. Espírito que vem de longe e que não se sabe de onde e nem de quem provém. Sabe-se apenas que é um fenômeno digno de atenção, admiração e encantamento. É ele, o Concurseiro, que tem a melhor noção de tempo e espaço. Que aposta no futuro e confia no seu próprio caminhar. E que diz a si mesmo, é possível!

Esse é o personagem que sabe dizer em tempo de desânimo… avante, coragem, vamos lá…! Porque, mesmo disputando com dezenas, centenas, milhares ou milhão, o Concurseiro é aquele que acredita sempre em si. E que a sua vaga permanece ali, à sua espera. Se não é pra hoje é pra amanhã ou depois… Não importa! O que importa mesmo é não perder o foco. Chego mesmo a pensar que a vida humana é como um concurso com fluxo permanente. E que concorremos, em certos momentos, com nós mesmos. Esse concorrente é, por vezes, o mais difícil. Mas se vencemos a nós, podemos vencer a qualquer um e o mundo.

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