Publicado em 20/08/2024 às 20h40.

 

 

Por Gercílio Souza

A CIDADE E O CAMPO.

O Céu quem testemunhou
Um debate acirrado
Entre a cidade e o campo
O qual ficou registrado
Nos anais da natureza
Para sempre ser lembrado
Visto que a urbanização
Avança sobre o sertão
Caatinga, Mata e Cerrado

Com o ambiente lotado
A cidade abriu a fala
Dirigindo-se ao campo
Num ritmo que avassala
Sou a mãe da felicidade
A mim nada se iguala
Quem não gosta do progresso
Não alcançará sucesso
A preguiça lhe entala

O campo na própria escala
Disse com tranquilidade
Você talvez proporcione
Uma tal prosperidade
Que a rigor é responsável
Pela sócio-desigualdade
Uns se afogam na riqueza
Muitos vítimas da pobreza
E da política covarde

Meio arrogante a cidade
Usou o seguinte argumento
Sou a síntese do progresso
Que é o desenvolvimento
Lucro, riqueza e poder
Tudo isto eu represento
Os templos e as catedrais
Os palácios imperiais
As luzes e o pavimento

Promove o desmatamento
Falou o campo na hora
Pela ganância econômica
Destrói a fauna e a flora
Ergue seus arranha céus
E o solo se deteriora
Suas empresas poluentes
Matam rios e afluentes
Você destrói e explora

Sobre mim o povo mora
Disse a cidade irritada
O campo só tem valor
Se a terra for desmatada
E produzir alimentos
Para engordar a boiada
As reservas ambientais
São prejuízos demais
Porque não produzem nada

Veja como é equivocada
Esta sua visão de mundo
O campo ainda falou
Com raciocínio profundo
Não diga que o camponês
É atrasado e vagabundo
Tem percepção diferente
Primeiro o meio ambiente
A economia em segundo

De produtos eu inundo
Lojas e supermercados
Os recursos tecnológicos
No meu ventre são gerados
Você vem com esse choro
De adolescentes mimados
Respeite a modernidade
Assim falou a cidade
Com os ânimos exaltados

Tudo produz resultados
Disto não há quem duvide
O campo sereno disse
Você cidade, progride
Entretanto o seu progresso
Geralmente me agride
Seu critério é a riqueza
Subestima a natureza
Que no fim é quem decide

É porque quem lhe reside
Se formou no comodismo
Presta culto à natureza
Isto é puro romantismo
Foi a réplica da cidade
Demostrando nervosismo
Criticou a preservação
E disse que é sem noção
O tal ambientalismo

O campo citou o abismo
Que o separa da cidade
Sou indispensável a todos
Produzo com qualidade
Você prejudica a muitos
Nutre a criminalidade
O luxo e a exibição
Frutos da exploração
Que endeusa a propriedade

Todo mundo tem vontade
De vir morar sobre mim
Com a temperatura alta
A cidade disse assim
Ficar longe da poeira
Da quiçaça e do capim
Sou o palco da fama
Mistura de asfalto e grama
Construo parque e jardim

Você é invenção de Caim
Diz a bíblica tradição
É o palco da violência
E da discriminação
Disse o campo com firmeza
Você é a deformação
Dos princípios naturais
Seus truques artificiais
Alienam a população

Ofereço a solução
Aos problemas em geral
Há o médico e a enfermeira
Fiz a clínica e o hospital
Contra o crime eu criei
O xadrez e o policial
Disse a cidade exaltada
Eu educo a garotada
Crio centro educacional

Há algo fundamental
E bastante corriqueiro
Que você sempre omite
A cidade tem mau cheiro
Na estação mais chuvosa
Entope córrego e bueiro
O campo assim respondeu
Muita gente já morreu
Na enchente e no lixeiro

Aplico muito dinheiro
Mão de obra e inteligência
Na prevenção de desastres
E de qualquer ocorrência
Disse a cidade inquieta
Demostrando impaciência
Estou em desenvolvimento
A crise é de crescimento
Faz parte da experiência

Veja que incoerência
E contrastes manifestos
O campo foi contundente
Você contempla os espertos
Atrai vírus e bactérias
Baratas e outros insetos
Sua ambição é crescer
Mas não sabe o que fazer
Com os lixos e os dejetos

A cidade fez protestos
Com os refletores soltos
Exalando a fedentina
Dos bueiros e dos esgotos
Falou que o campo produz
Morcegos e gafanhotos
Escorpiões e pernilongos
Barbeiros, ratos e gongos
E outros bichos escrotos

Você possui vários rostos
O campo lhe respondeu
Promove crises e tragédias
E vem dizer que sou eu
Pandemias e epidemias
Tudo é problema seu
Alertas são emitidos
Mas você tapa os ouvidos
A ganância a corrompeu

A cidade se recolheu
O campo fez sua parte
E ainda disse a ela
Retire o seu estandarte
Sou o equilíbrio ecológico
Não mereço esse desgaste
Aquele público aplaudiu
O campo então concluiu
E encerrou o debate

Texto do Gecílio Souza.

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