Publicado em 29/05/2025 às 18h45.

Antonio Rocha.
ANTÔNIO ROCHA: Graduação em Filosofia pela Pontifícia Universidade Católica de Goiás, Curso livre em Teologia, especialização em Filosofia Clínica, pelo Instituto Packter e mestrado em Ciências da Religião pela PUC Goiás.

CORRENTINA: “A CIDADE DO JÁ TEVE.”

Foto: Cine Teatro.

A nossa conversa de hoje é endereçada, principalmente, às novas gerações. O propósito é contribuir com a conscientização e com o resgate de alguns traços da memória histórica correntinense. Lembro-me que um dia ouvi, numa conversa casual, alguém exclamar: ei, “Correntina é a cidade do já teve!” Confesso que aquela expressão estridente soou provocativa aos meus ouvidos e, desde então, passei a olhar mais atentamente ao meu redor. Não há dúvidas que, após um cuidadoso exame, a falta de muitos elementos históricos em nossa cidade é notória.

Foto: Casa de Saúde e Maternidade Padre André.

E, para constatar essa carência, nem é  preciso possuir olho clínico. Basta examinar, rapidamente, o mapa da cidade que a ausência de uma série de valores salta à vista. Valores que a cidade foi, paulatinamente, perdendo ao longo do tempo. São perceptíveis os vazios e as perdas patrimoniais sofridas no transcurso das sucessivas gerações do nosso município. Para efeito de ilustração, vale mencionar alguns monumentos que confirmam a nossa constatação.

Foto: Usina de Algodão.

Talvez muitos, dentre os mais jovens, não saibam que Correntina já teve fábrica de manteiga, de bolacha e biscoitos, além de sediar uma usina de beneficiar algodão. Também já possuiu um jornal impresso e até tipografias. Máquina de beneficiar arroz, cine teatro, escola de teatro, clube recreativo Roda d’água, cinema, casa de saúde e maternidade.

Vocês sabiam que a nossa cidade já ostentou fábrica de pólvora e fogos de artifício, fábrica de jóias e ourives, fábricas de celas, bruacas, chapéus de couro, alforje, gibão, perneiras, sapatos e sandálias?  Não obstante tais aquisições e suas imediatas e consequentes perdas, o município continua com a sua sanha de demolir expropriar e transformar seu acervo arquitetônico e cultural, sob o questionável pretexto de modernização. Desta forma, enseja e estimula e efetiva a nefasta política de novas ocupações dos espaços do centro histórico da cidade. E o faz por intermédio de criminosas demolições e/ou descaracterização de sua  arquitetura original.

Foto: Serraria do Padre.

A pujança da Correntina de outrora não se restringia a prédios ou outros monumentos físicos, apenas. A cidade já teve, igualmente, os seus incontestáveis monumentos humanos, a exemplo do grande teatrólogo Iozinho Costa, os poetas e literatos João Diamantino, Antonio Barbosa (do Incra) e João Guerra. Correntina também formou e abrigou grandes políticos e oradores do nível de um Pedro Alexandrino Guerra, Joaquim Araújo e Epaminondas Alcântara, assim como forjou destacados locutores como: Gundes Araújo, Álvaro de Nissinha, Neno telegrafista, Vadú de Caboclo,  Zoroastro e assim por diante.

Foto: Iozinho Costa
Foto: Vadú de Caboclo
Foto:Antonio Barbosa (do Incra)

Não, Correntina não pode aceitar e conviver com a pecha do “já teve” e agora não tem mais. Tampouco deve se contentar com o “ainda terei…”. O que a cidade sempre precisou é de conservar tudo que conquistou. Todavia, o que se observa e se vive é um verdadeiro quebra-quebra vicioso e permanente. Quebram-se prédios, casas, ruas, praças, monumentos e outras tradições, indiscriminadamente. Vorazmente vão solapando a nossa memória, a nossa história e a nossa identidade.

Foto: Epaminondas Alcântara.
Foto: Joao Diamantino. (centro)

Para os apressados e distraídos, esta reflexão não passa de um estéril saudosismo. Protestando, porém, reitero que os que se colocam como guardiães dos nossos valores históricos, oportunamente hão de perceber  que o patrimônio histórico.

Foto: Pedro Alexandrino Guerra
Foto: João Guerra.

de nossa cidade constitui-se de coisas e pessoas, registros impressos e oralidade. Trata-se de constitutivos relevantes e caros a todos nós, seus munícipes.

3 COMENTÁRIOS

  1. Há tempos a região vem passando por um processo de “Goianização”, sim, é um apagar da cultura e características locais para imitar nossos vizinhos. Eu sou um admirador da cultura goiana, e percebo esse plagio que vem acontecendo aqui, e vai além de empurrar os Correntineses para lá, em busca de empregos.

  2. Boas lembranças que se complementam na antologia Vestígios de Saudade com participação de 25 poetas correntinenses e suas biografias. Quais fonte das fotos??

  3. O Padre Antônio mais uma vez, retratou Correntina.
    É uma pena, nenhuma autoridade se importar com todo esse descaso.
    Já teve politico bom aí também?…

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