Publicado em 21/05/2025 às 05h45.

Antonio Rocha.
ANTÔNIO ROCHA: Graduação em Filosofia pela Pontifícia Universidade Católica de Goiás, Curso livre em Teologia, especialização em Filosofia Clínica, pelo Instituto Packter e mestrado em Ciências da Religião pela PUC Goiás.

AFINAL, QUAL FOI O CRIME DA SOLANGE?

Foto: Solange Moreira

Cuidado! Muito cuidado, para não “jogar a criança fora juntamente com água da bacia.” Por trás desse mato há coisas… Não restam dúvidas de que combater o crime é algo desejável. Entretanto, quem o faz não pode escolher outro lado que não seja o da própria justiça. Até onde se sabe, por meio da cronologia jornalística e pela percepção social sintetizada nos relatos de vítimas e de testemunhas, “a corda arrebenta-se sempre do lado dos mais fracos.”

A crer nas manifestações declaradas até o presente, inclusive por este veículo de comunicação, percebe-se que a líder comunitária Solange, juntamente com o seu esposo, empreende suas lutas em defesa do Cerrado, dos anseios e das expectativas dos ribeirinhos e dos geraizeiros.

Foto divulgação.

É de conhecimento público que os gerais sempre foram palco de grandes conflitos, com flagrantes danos e prejuízos às comunidades da região. O executivo, o legislativo e judiciário, estão repletos de relatórios, de denúncias e de ações movidas por essas populações rurais. Não obstante e a despeito do volume de reclamações, os respectivos poderem permanecem inertes e inoperantes. Opostamente, quando se trata da demanda dos grandes investidores que representam o capital, às mesmas instituições são diligentes e céleres. Posto que a justiça é simbolizada pela balança, o seu desequilíbrio massacra os mais vulneráveis. A indagação é pertinente e a resposta é previsível: Será que o Estado virou as costas para essa gente? Quantas mortes de posseiros dos gerais ainda serão contabilizadas, para que o poder público compreenda que os criminosos não são os antigos moradores, mas os que gananciosamente invadem, destroem, roubam e matam?

Foto divulgação.

Confesso que não consigo entender a inversão dessa lógica. Desde o processo de fomento e instalação das políticas de reflorestamento no Oeste baiano, testemunhamos a ininterrupta sequência de atos criminosos perpetrados contra os povos da região. O mesmo acontece com o meio ambiente, flagrante violência à vida animal e vegetal. Fica a sensação de total ausência do Estado, percepção diluída do imaginário popular. Quando o Estado opera, parece ser sempre em benefício dos grandes e em desfavor dos pequenos.
É espantosa a constatação de que as mortes que rondam os gerais silenciam, além da voz dos que são transformados em defuntos, também as dos sobreviventes que passam a viverem amedrontados.

Diz a canção popular que “quem morre calado é sapo, debaixo do pé de boi.” Uma sociedade silenciada é uma sociedade sem respiro de vida. Por isso é necessário gritar: “Pai, afasta de mim esse cálice (Cale-se)!”, Já que, diante daquilo que ameaça a vida e a dignidade, calar-se Jamais será uma opção!
O mais grave é que a violência praticada contra esses povos nativos não assusta mais a sociedade.

Não escandaliza, não surpreende nem chama a atenção das autoridades. Está tudo consumado e naturalizado, numa resignação imoral, desumana, irresponsável e insensível à dor do outro. Enquanto isso, os territórios vão padecendo com a morte das nascentes, com a escalada do veneno, com a destruição criminosa das cercas. Como se não bastasse, a política das queimadas que engolem os feixos é a consequência do roubo de suas terras e da matança de suas criações. Cadê o direito de cidadania e a constitucional proteção estatal? A resposta é sempre o silêncio ensurdecedor, isto porque, a rigor o medo, a conveniência e os escusos interesses alimentam essa prática ilegal e imoral.
ARS.

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