Publicada em 18/8/2025 às 10h25.

VANDINHA: UMA MULHER À FRENTE DO SEU TEMPO
Por Antonio Rocha.

Vanderlina Santos Alves, conhecida por dona Vandinha, funcionária pública no cartório da cidade, uma extraordinária mulher que, a despeito de não ser historiadora, conhecia, como poucos, relevantes fatos históricos. Polivalente e extremamente habilidosa, dona Vandinha era dotada da percepção e do domínio da arte do embelezamento, aquele dom especial para as dinâmicas estéticas. Sua privilegiada memória guardava as imagens arquitetônicas e os arroubos das fratricidas lutas travadas entre os coronéis de Correntina e seus opositores vizinhos, naquela ocasião.



Essa destemida mulher atravessou tudo aquilo incólume. Muitas pessoas viram as marcas de balas nas portas de sua casa, deflagradas dos cravinotes manuseados pelos prepostos dos coronéis. Mas aquela destemida mulher resistiu ao faroeste correntinense, e suas narrativas eram muito mais envolventes, pois atestadas e confirmadas pela inapagáveis da brutalidade dos agressores. Segundo dona Vandinha, a defesa armada dos homens de Correntina formava corredores nas ruas marginais ao rio e, entrincheirados em barricadas de algodão e sacos de areia, eles moviam-se de um lado para o outro.


Lembrando que a dona Vandinha era o braço direito dos juízes, principalmente no período de eleições. Além de reconhecida servidora, uma pessoa de profunda e contagiante religiosidade. Sua notável demonstração de fé exprimia-se na observação dos ritos litúrgicos executados durante as celebrações na igreja matriz. Acresce-se a isso a sua dedicação ao trabalho decorativo do templo, mormente na época dos festejos e das celebrações ditas pontificais, que a igreja realizava por ocasião das festas do divino e da padroeira da cidade. De suas mãos nasciam verdadeiras obras de arte, as quais conseguiam elevar até ao céu, a alma dos que as contemplavam. Era a ela que o padre e a irmã Oneide confiavam os arranjos e o embelezamento da matriz, atividade que ela realizava por fidedigna devoção, como se incorporasse alguma entidade divina.


Comunicativa, inteligente e de rápido raciocínio, Vandinha era a mulher da caridade e da compaixão, do amor e da compreensão. Elegantemente fina, ela desfilava como uma dama saindo de um luxuoso Palácio, porém sem garbo ou soberbia, exibindo tão somente a sua nobreza e sobriedade. Mulher que, com suas mãos mágicas, imprimia brilho às festas, quaisquer que fossem. Marcava presença nas praças e nas ruas, apreciando, prestigiando o carnaval e as quadrilhas dançantes. Em se tratando dos assuntos próprios do templo, lá estava ela compenetrada, interpretando o simbolismo do sagrado, a partir da comunicação simbólica da própria arte.
Realmente, mulher incrível! Feliz o correntinense que, como eu,teve a felicidade de conhecê-la!