Publicado em 31/12/2025, às 6h12.

Antonio Rocha.
Possui graduação em Filosofia pela PUC Goiás, graduação em Direito, Licenciatura em História, Curso Seminarístico de Filosofia pelo Instituto de Filosofia/teologia de Goiás, Curso livre em Teologia (1993), especialização em Filosofia Clínica, e mestrado em Ciências da Religião pela PUC Goiás. Ex- Professor efetivo da PUC Goiás, foi professor convidado do Instituto de Filosofia e Teologia de Goiás.

O PAU DA BARRIGUDA E AS PRANCHAS DOS MENINOS. 

Foto produzida por IA.

O rio era o nosso mar, um mar de água doce! A rigor, salgada mesmo era a vida. Pudera, pois o que realmente havia de bom ali, além do rio, era a capacidade inventiva das crianças, nada mais. Não havia televisão colorida nem controle remoto, tampouco carrinho elétrico para a diversão das crianças. Restava-lhes “virar-se nos 30” e ativar a imaginação criativa, naquele contexto desafiador dos anos 70. Em meio a tantos desafios, imperava a indagação: o que fazer para o adequado usufruto daquele rio? A tal pergunta eles responderam com a invenção das pranchas das árvores “esponjosas”, de constituição porosa, nativas das matas de Correntina. Eram toras de barrigudas colhidas nas roças alheias, principalmente nas fazendas de Diolindo, Jacinto, Estácio e outros. Os meninos iam em turmas, vadiando pelas estradas, com facões e machados sobre os ombros, além dos estilingues e bodoques.

Foto produzida por IA.
Foto produzida por IA.

Em razão disto, o estabelecimento de parcerias para aguentar o peso da madeira se fazia necessário. Ocorre que, quando a barriguda estava verde, pesava ao extremo. Após chegarem em casa, lapidavam a peça e a expunham ao sol durante dias, até secar e ficar leve. Posteriormente, depois de prontas e lançadas ao rio, o tráfego no leito aquático tornava-se intenso e congestionado em razão das inúmeras pranchas que disputavam espaços nas águas do Correntina.

Foto produzida por IA.
Foto produzida por IA.

Al poder-se-ia ver, a qualquer dia e a qualquer hora, filas de meninos descendo cachoeiras e rodopiando nos remansos. Depois saltavam em outras margens com as suas pranchas nas costas, à procura de mais correntezas e quedas d’águas, para repetirem as façanhas. O limite de suas aventuras era o remanso de Celso. Depois de se esbaldarem, retornavam às suas casas, gemendo com o peso da barriguda encharcada sobre os ombros.

Foto produzida por IA.

Recordo-me, perfeitamente, que naquele trânsito aquático não havia somente barrigudas, mas também as famosas bóias, conhecidas por câmaras de ar. Bóias atiradas ao rio, provenientes de caminhões, automóveis, tratores. Às vezes os meninos as utilizavam em grupos, sentados sobre elas para nadarem. Isto, a depender da boa vontade dos donos daquelas preciosidades. Em certas ocasiões, sob o império do egoísmo, eles nadavam sozinhos, cada qual com seu brinquedo.

Foto produzida por IA.

 

Mas o domínio da bóia, por si, deixava transparecer as condições sociais das crianças. Os mais pobres desfilavam nas barrigudas, enquanto os de melhores condições, utilizam as bóias de custos financeiros elevados, mesmo que usadas e emendadas. Bem, com bóias ou sem bóias, com ou sem barrigudas, o rio sempre foi o lugar do encontro, da integração e da festa. Bons tempos, aqueles…!

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.