Publicado em 23/06/2025 às 17h52.

Antonio Rocha.
ANTÔNIO ROCHA: Graduação em Filosofia pela Pontifícia Universidade Católica de Goiás, Curso livre em Teologia, especialização em Filosofia Clínica, pelo Instituto Packter e mestrado em Ciências da Religião pela PUC Goiás.

JOÃO BARBOSA, O SOLDADO CORRENTINENSE QUE PERSEGUIU LAMPIÃO.
Por Antonio Rocha.

Foto de soldados das volantes.

Refletindo sobre o enorme contingente de personagens da terrinha, resolvi trazer ao conhecimento do leitor o correntinense que, com sua equipe volante, perseguiu o cangaceiro Lampião. João Barbosa foi uma das figuras mais emblemáticas de Correntina.

Foto de soldados das volantes.

De estatura mediana, pele morena, cabeça avantajada, sobrancelhas grossas e volumosas sobressaindo à testa, orelhas peludas sobressaltando ao orifício dos ouvidos e voz impositiva. Assim podia ser definido o seu biótipo. Vale dizer que o dito dava conta de tudo que acontecia na vizinhança, mesmo na condição de cego. Conta-se que sua cegueira foi causada por um acidente, enquanto cortava lenha. Antigo morador da Rua Félix de Araújo, quase defronte à oficina de Pedro Ferreira, cuja residência situava-se entre a casa de Zé Olho de Anu e a de Sana, a sogra de Mira. Exatamente ali abrigava -se o ilustre senhor guardador de mistérios e reminiscências.

Foto de soldados das volantes.

Pelas manhãs ou ao cair da noite, poder-se-ia encontrar o notável Barbosa tateando, com uma bengala na mão. Com atenção redobrada, estava sempre disposto a entabular uma boa prosa e fazer um bom acolhimento, na alta calçada de sua casa. Gostava de contar histórias e, principalmente, as sagas e peripécias de quando sentou praça, como soldado. Gostava de exibir as suas façanhas e poderio, sobressaindo-se como capaz e eficiente no cumprimento das ordens militares.

Foto de soldados das volantes.

Não sei se por um dom divino, uma peculiaridade da natureza ou mesmo por desenvolvimento cognitivo acima da média, o nosso protagonista tornou-se uma pessoa diferenciada. De personalidade inflexível, sempre ostentava elevada autoridade, principalmente nas discussões domésticas com a esposa. Era um sujeito chucro, áspero e, em certas situações, extremamente deselegante. Mas, em outras situações, revelava-se prestativo e amável.

Bando do cangaceiro Lampião.

Consta, ainda, na biografia do nosso ilustre personagem, que o mesmo atuou como policial em algumas cidades da Bahia. Consta que uma de suas incríveis façanhas foi a implacável perseguição ao Bando de Lampião. Desta aventura, não se sabe como o soldado João escapou vivo e nem quantos agentes tombaram do lado de sua volante, assim como é desconhecido o número de cangaceiros do bando de Lampião que tombaram. Igualmente, não se tem informação onde e quando aconteceu tal embate. É que o tempo corre e João e seus contemporâneos já estão mortos. Restam, apenas, os relatos da confissão do próprio depoente, que já se encontrava com a visão comprometida, além de um retrato emoldurado e afixado no alto da parede da sala. Diga-se, de passagem, que o tal retrato com vestimenta a caráter era o testemunho de sua atuação militar.

Bando do cangaceiro Lampião.

Fato é que o nosso ilustre Cego Vigia, além de se preocupar com a segurança da rua onde morava, tronou-se, mais tarde, um grande conselheiro e ouvinte dos vizinhos, principalmente para os jovens e adolescentes. Assumindo para si essa missão, João andava pelas ruas visitando a vizinhança, ao tempo em que se atentava para os noticiários e para os movimentos da cidade. Em sua casa, além de residência, também abrigava uma alfaiataria, cujo exímio profissional era o seu filho Zinho, popularmente conhecido por Zinho ”Panquinha.’ Isto porque o tal rapaz vivia literalmente na “panca”, sempre penteado, bem vestido, escovado e perfumado, tentando fazer média com a sociedade e vender a sua profissão.

Bando do cangaceiro Lampião.
Bando do cangaceiro Lampião.

Para ser justo, Zinho era um dos maiores alfaiates de Correntina. Isto quando a cachaça lhe deixava trabalhar. Esse rapaz, além de ser bom para tirar as medidas, era igualmente competente no corte do pano e na confecção do tecido. Boêmio de “marca maior” e um exímio tocador de pandeiro, dizem que, no sacolejo do seu instrumento, poder-se- ia extrair as letras da canção que, sonorizadas diziam: “a escadeira da morena, a escadeira da morena…” Embora João Barbosa tivesse orgulho das habilidades do filho, nutria um profundo desgosto devido ao vício que carregava. Pena que Zinho “Panquinha” morrera prensado entre a carroceria de um caminho e a parede da casa de seo Ângelo, num triste fim de tarde.

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