Publicado em 16/06/2025 às 10h26.

O PARADOXO DE LÁZARO.

Era manhã! A Igreja estava repleta de pessoas, enquanto o líder religioso discorria a sua prédica. Uma beleza de sermão! Comovente, ele explicava, com tom piedoso, a narrativa bíblica do rico avarento e o mendigo Lázaro. Ainda me recordo do fragmento a seguir: “Havia um homem rico que se vestia com roupas de púrpura e linho fino e dava grandes festas todos os dias. Um pobre, chamado Lázaro, coberto de feridas, ficava deitado junto à porta do rico. Queria matar a fome com o que caía da mesa do rico. Em vez disso, até os cães vinham lamber-lhe as feridas” (Lc. 16,19-21).

Depois da reflexão, o silêncio… Reparei que os fiéis tinham os olhos ensopados de lágrimas. De fato, a narrativa dramática do pobre Lázaro, retratada nas páginas Sagradas das Escrituras, mexeu com todos ali no templo, aflorando-lhes os seus sentimentos.

Além do mais, a pobreza, a indigência, a miséria e a humilhação daquele pobre homem, catando restos de comida por debaixo da mesa era, sem dúvida, desumano. Aquilo contrastava, violentamente, com a imagem do avarento, que sentado à mesa esbanjava e abusava da abundante refeição, lambuzando-se e esparramando o farto alimento que fragmentara pelo chão.

Acompanhei com olhar atento, a compenetração daquelas pessoas que seguiam introspectivas para a ceia fraterna da fração do pão. Homens e mulheres que compadecidos, condenando tal crueldade e insensatez, pareciam ter acolhido o pobre Lázaro em suas entranhas como que um filho rejeitado pela sociedade.

Pena que o Lázaro, da cena bíblica, sensibiliza mais que os lázaros do mundo de hoje. É visível que, no Brasil, os lázaros se acotovelam em cada esquina, nas praças, nos asilos, nos orfanatos, nos presídios e nos lixões. Eles se alimentam não apenas de migalhas que caem das mesas dos abastados, mas de restos descartados. Aqui a realidade é mais grave e cruel. Sim, porque muitos se alimentam de comidas podres carreadas para os fétidos depósitos de lixo das médias e grandes cidades brasileiras.

Certo é, que os nossos Lázaros são invisíveis e não nos tocam mais, confirmando a máxima que diz:“o que os olhos não veem o coração não sente!”Sim, porque na igreja sentimos a dor do Lázaro bíblico, mas os Lázaros chagados e famintos que vivem ao nosso redor não nos sensibilizam com as suas dores, choros e gemidos, mesmo estando diante dos nossos olhos. As suas imagens reais e verdadeiras não mexem com a nossa empatia e solidariedade. A isso eu chamo de o Paradoxo de Lázaro!