Publicado em 20/10/2025, às 06h41.

SEU MOACIR E O MEDO DA MORTE MAL MORRIDA
Seu Moacir era um cidadão carioca, radicado em Correntina da década de 60 ao início dos anos 70. Havia sido designado para dirigir a agência dos correios daquela pequena cidade baiana. Era tido como um dos homens mais letrados, instruídos e polidos do lugar.

Transitava livremente entre abastados e poderosos da cidade. De estilo elegante, cútis branca, cabelos lisos e bigode exuberante, o nosso homenageado chegou já casado com Mariazinha, uma bela senhora de pele negra. Mulher carioca de fino trato, inteligente e falante, artesã extremamente criativa. Como autêntico carioca, tinha um sotaque meio chiado, que destoava da baianidade. Moacir, por seu turno, era homem de fácil aproximação, comunicativo e de uma bondade sem limites. Não obstante, foi dona Mariazinha quem, pela primeira vez, apresentou à cidade a arte de empalhamento de animais, denominada de taxidermia. Sua casa era ornamentada por réplicas de diversos animais e insetos da fauna do Cerrado. Além do que, essa senhora mantinha em seu quintal cágados, periquitos, papagaios, cães e até um macaco.

O cágado era a atração das crianças, enquanto os adolescentes divertiam-se com o desfile de um boneco amontado no lombo de um cachorro arreado, de nome Perí. Geralmente, o desfile era conduzido por Joãozinho, filho do casal. Mas a atração de destaque mesmo, era protagonizada pelo macaco chamado Chico.

A atração transformava-se numa macaquice só, com traquinagem absolutamente fora do comum. Além das presepadas impróprias, o macaco saia atentando a vizinhança inteira, bulindo aqui, malinando acolá, e assim ia saltando de muro em muro, entrando pelas cozinhas, destapando panelas, roubando alimentos. Na casa de Paulina de Odilon, Chico gostava de roubar ovos nos ninhos das galinhas, causando prejuízos às famílias. Em contrapartida, empolgava e divertia a meninada. Frequentemente, as crianças reuniam-se debaixo da mangueira, exclusivamente para brincar e assistir às estripolias do Chico.

O casal Moacir-Mariazinha tinha uma prole numerosa, inteligente e bem educada, com as filhas privilegiadas pela beleza. Moacir integrava o contingente de pessoas mais respeitadas e admiradas da cidade, posição conquistada pela sua boa aparência física e pelo seu preparo intelectual. Homem bem informado e atualizado, assíduo leitor. Devido ao investimento na própria formação, sua renda superava a média local.

Dizem que Moacir, embora fosse gente de amizade fácil, em certa ocasião indispós-se com um famoso major da cidade. Se isto é anedota ou não, tal fato nunca foi apurado. Histórias à parte, o que afligia mesmo o agente dos correios de Correntina era o medo mórbido da tal morte mal morrida. Tinha pavor de, eventualmente, acordar depois da morte, sepultado num túmulo escuro, dentro de um caixão cheio de terra e sem ventilação. De fato, Moacir sofria do transtorno de tafofobia. Isto aconteceu depois do agente ter lido, certa vez num jornal, o caso em que um suposto defunto teria despertado-se da morte, depois de enterrado. A notícia correu o mundo, dando conta de que encontraram um corpo exumado, todo revirado dentro do caixão. Isto fez supor que o defunto havia acordado do sono da morte e tornou a morrer por asfixia dentro da urna mortuária.

Assombrado, Moacir mandou fazer um caixão de madeira maciça, feito sob medida, mantido guardado para esse fim. Depois, planejou construir uma catacumba com ventilação e moderna instalação telefônica, para uma eventual emergência ou comunicação além-túmulo, após recobrar a consciência da pretensa morte. Esta macabra cena aguçou a curiosidade de toda a cidade, enquanto numerosos curiosos rondavam a casa do Senhor Moacir, tentando ver a novidade escondida em seus aposentos.

O tempo passava e Moacir não morria, até que chegou o momento em que o dito cujo teve que retornar, definitivamente, para o Rio de Janeiro, com a idade bastante avançada, porém vivo. Por segurança, ele levou o próprio caixão em um caminhão. Até hoje não se sabe se Moacir foi enterrado num caixão ou se, por ventura, morreu e des-morreu.
kkk boa história… essa eu queria ter visto de perto! o cabra era medroso mesmo esse medo é um medo bobo mas existe muito.. já o macaco é um ser difícil de se criar .kk não dá certo mesmo kkk
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