Publicado em 28/10/2025, às 17h40.

Correntina produz bilhões, mas segue sem indústria: a riqueza que vai embora
Por Getúlio Reis
A cidade de Correntina, no Oeste da Bahia, é um dos principais polos agrícolas do estado e figura entre os 50 maiores produtores do Brasil. Segundo a Pesquisa Agrícola Municipal (PAM), divulgada pelo IBGE, o município ocupa a 27ª posição nacional, com R$ 2,42 bilhões em valor de produção. Ainda assim, a cidade segue sem colher os frutos de sua própria abundância: não há uma única indústria de beneficiamento agrícola instalada no município.

Bahia em destaque, Correntina em alerta
A Bahia reafirmou sua força no agronegócio com sete municípios entre os 50 maiores produtores agrícolas do país — São Desidério, Formosa do Rio Preto, Barreiras, Correntina, Luís Eduardo Magalhães, Juazeiro e Riachão das Neves. Juntas, essas cidades somam R$ 23,17 bilhões, colocando o estado como líder do Nordeste e segundo no ranking nacional.
De acordo com o secretário estadual de Agricultura, Pablo Barrozo, o desempenho é resultado de investimentos em tecnologia, infraestrutura e políticas públicas voltadas ao campo. “Temos investido fortemente em tecnologia, assistência técnica e ações que chegam efetivamente ao produtor”, afirmou.

Apesar disso, a realidade de Correntina mostra que a riqueza do campo nem sempre se converte em desenvolvimento urbano.
Produzindo muito, ganhando pouco
Com lavouras de soja, milho e algodão, Correntina é um dos motores do agronegócio baiano. Contudo, a maior parte da produção é escoada para municípios vizinhos, como Barreiras e Luís Eduardo Magalhães, onde há estrutura industrial e logística para o processamento. De lá, os produtos seguem para exportação, gerando empregos e tributos fora do território correntinense.



Na prática, o município atua como fornecedor de matéria-prima, sem participar das etapas de beneficiamento e industrialização, que são justamente as que mais agregam valor e geram renda. O resultado é um paradoxo: bilhões passam pelos campos de Correntina, mas pouco fica na cidade.
Prefeitura, o maior empregador
A ausência de um setor privado diversificado faz com que a Prefeitura de Correntina seja o principal empregador do município. O fenômeno, comum em cidades dependentes do agronegócio mecanizado, tem consequências diretas: falta de oportunidades, estagnação econômica e a perpetuação de um discurso de que a máquina pública virou um “cabide de empregos”.

Enquanto o campo avança em produtividade, o desenvolvimento urbano e social não acompanha o ritmo. A carência de indústrias e de investimentos locais também reduz a arrecadação municipal, limitando a capacidade de investimento em infraestrutura e serviços públicos.
Região em transformação, Correntina parada
Cidades vizinhas, como Barreiras e Luís Eduardo Magalhães, conseguiram atrair indústrias de esmagamento de soja, beneficiamento de algodão e polos de tecnologia agrícola, diversificando a economia e gerando empregos qualificados. Correntina, por outro lado, permanece à margem desse processo.




Economistas apontam que a falta de planejamento estratégico, incentivos fiscais e infraestrutura adequada dificulta a instalação de novas empresas. Sem políticas que integrem produção, indústria e logística, o município corre o risco de continuar apenas exportando sua riqueza e importando progresso.
O desafio do futuro
Correntina tem todas as condições para se transformar em um polo de desenvolvimento regional. A produção agrícola já é uma realidade consolidada; falta agora converter esse potencial em desenvolvimento local, com políticas voltadas à industrialização, formação técnica e atração de investimentos.
É preciso que as autoridades locais façam gestões junto aos Governos Estadual e Federal, bem como junto às grandes empresas do ramo oleaginoso e têxtil, junto a ABIT (Associação Brasileira das Indústrias Têxtil), a fim de possamos utilizar a mão de obra local e desafogar a Prefeitura como fonte empregadora, oportunizando melhores condições e salários para os nossos compatrícios.
Enquanto isso não acontece, a cidade seguirá sendo exemplo de uma riqueza que brota no campo, mas seca antes de chegar à cidade.





