Publicado em 16/12/2024 às 16h25

Foto: Me. Paulo Oisiovici

POR QUE A EDUCAÇÃO NO BRASIL CONTINUA NÃO DANDO CERTO?

Por Mestre Paulo Oisiovici 

Segundo o PhD Vitor Henrique Paro, professor emérito da Universidade de São Paulo, com mestrado em Educação pela USP e doutorado em Educação pela PUC-SP, a educação no Brasil continua não dando certo até hoje, porque replica o desastroso e fracassado modelo educacional norte americano.

As mesmas soluções de mercado implementadas pelos EUA na educação e adotadas pelo Brasil, inclusive pelos governos da pseudo esquerda cooptada pelo capital(https://jornaldecorrentina.com.br/por-prof-me-paulo-oisiovici-o-que-e-omitido-no-debate-superficial-demagogico-populista-e-eleitoreiro-sobre-a-doacao-de-um-predio-publico-a-uma-faculdade-privada-em-correntina-ba/), não estão alcançando as melhorias esperadas no desempenho dos alunos. Os EUA permanecem estagnados em avaliações nacionais (Naep) e internacionais (Pisa)1.

Ao contrário do que se pensa e se difunde no Brasil, embora os EUA possuam dezenas das melhores universidades do mundo, a formação média dos americanos não está à altura desses centros de excelência. E, os que ao nível de PhD, se ocupam da pesquisa de ponta em ciência, naquele país, são 100% estrangeiros.

Segundo o PhD em física teórica (1972), Michio Kaku (japonês naturalizado estadunidense), bacharel (summa cum laude) por Harvard (1968), diretor do Berkeley Radiation Laboratory (1972), membro da University of Princeton (1973) e, atualmente, professor da City University of New York, cujos estudos concentram-se na unificação da mecânica quântica à teoria geral da relatividade; o sistema educacional dos EUA é o pior em ciência, dentre os países considerados desenvolvidos. Para ele, a falha da revolução da informação é, precisamente, o sistema educacional dos EUA. “Os formandos” estadunidenses “concorrem regularmente ao nível de países do Terceiro Mundo”. O renomado cientista afirma que “a ciência nos EUA não entra em colapso, mesmo produzindo burros, graças ao H-1B”. Não haveria Vale do Silício sem o H-1B. O H-1B é o “visto dos gênios”. Nos EUA, 50% dos candidatos a PhD nasceram no exterior. Nos programas de pesquisa de ponta dos EUA, 100% dos candidatos são estrangeiros(https://www.youtube.com/watch?v=ZrYPMk5YUVs). Os EUA são um ímã que suga todos os cérebros do mundo (o maior número de acessos e uso de minha dissertação de mestrado na Universidade do Porto, é por pesquisadores dos EUA: 799 (https://repositorio-aberto.up.pt/handle/10216/119496/statistics). Mas gênios estrangeiros responsáveis pelas pesquisas e conquistas dos EUA na ciência estão voltando para os seus países (China, India, países do Leste Europeu, dentre outros). Michio Kaku afirma peremptoriamente que “o sistema educacional é o tendão de Aquiles dos EUA”.

Foto Ilustrativa.

Num estudo realizado no âmbito do Programa Internacional para Avaliação de Competências (PIAAC, na sigla em inglês), entre os países membros da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), os EUA tiveram uma performance medíocre, ficando em 6 indicadores, no mesmo nível dos países subdesenvolvidos(https://www.bbc.com/portuguese/internacional-42076223).

A pesquisa mediu três níveis educacionais diferentes em termos de capacidade de leitura e habilidade numérica: pessoas que não completaram o ensino médio, indivíduos com ensino médio completo e outros com pelo menos dois anos de ensino universitário cursado.

Participaram da análise pouco mais de 20 países: Austrália, Áustria, Canadá, República Checa, Dinamarca, Estônia, Finlândia, França, Alemanha, Irlanda, Itália, Japão, Países Baixos, Noruega, Polônia, Coreia do Sul, Eslováquia, Espanha, Suécia, Estados Unidos, Bélgica e Reino Unido.

No Pisa de 2022 (resultados publicados em 2023) os EUA obtiveram nota 465 em Matemática, abaixo de Singapura (575), Macau (552), Taipé/Taiwan (547), Hong Kong (540), Japão (536), Coreia do Sul (527), Estônia (510), Suíça (508), Canadá (497), Países Baixos (493), Irlanda (492), Polônia (489), Reino Unido (489), Dinamarca (489), Bélgica (489), República Tcheca (487), Austrália (487), Áustria (487), Eslovênia (485), Finlândia (484), Letônia (483), Suécia (482), Nova Zelândia (479), Alemanha (475), Lituânia (475),

França (475), Hungria (473), Espanha (473), Itália (472), Vietnã (469), Noruega (468), Malta (466) (https://g1.globo.com/educacao/noticia/2023/12/05/ranking-da-educacao-brasil-esta-nas-ultimas-posicoes-no-pisa-2022-veja-notas-de-81-paises-em-matematica-ciencias-e-leitura.ghtml).

No teste sobre a capacidade de leitura, entre aqueles que não haviam terminado o ensino médio, os americanos ficaram entre os cinco países com os piores resultados; entre aqueles que completaram esse nível de estudos, o país ficou abaixo da média de todos.

No caso de pessoas que tinham começado a cursar a universidade, os americanos ficaram acima de oito países, empataram com outros seis – mas foram ultrapassados ​​por sete nações.

No ranking mundial das notas do Pisa de 2022 (resultados publicados em 2023) em leitura os Estados Unidos tiveram nota 504, abaixo do Canadá (507), Macau (510), Estônia (511), Coreia do Sul (515), Taipé/Taiwan (515), Irlanda (516), Japão (516), Singapura (543).

Além disso, os Estados Unidos registraram a maior diferença entre os resultados obtidos por aqueles que não terminaram o Ensino Médio e aqueles que têm pelo menos dois anos de ensino universitário.

Na avaliação das habilidades numéricas, os americanos ficaram consistentemente abaixo da média da OCDE nos três níveis educacionais estudados. Além disso, o país ficou na lanterna em dois níveis: entre os que não terminaram o ensino médio e aqueles que concluíram esta etapa.

Para aqueles que completaram pelo menos dois anos de ensino superior, os EUA se igualaram a outros cinco países e ficaram atrás de 15 outras nações (Ibidem).

No ranking mundial das notas do Pisa de 2022 (resultados publicados em 2023) em ciências, tiveram nota 499, empatando com a Polônia (499) e ficando abaixo da Eslovênia (500), Reino Unido (500), Suíça (503), Nova Zelândia (504), Irlanda (504), Austrália (507), Finlândia (511), Canadá (515), Hong Kong (520), Estônia (526), Coreia do Sul (528), Taipé/Taiwan (537), Macau (543), Japão (547), Singapura (561)  (https://g1.globo.com/educacao/noticia/2023/12/05/ranking-da-educacao-brasil-esta-nas-ultimas-posicoes-no-pisa-2022-veja-notas-de-81-paises-em-matematica-ciencias-e-leitura.ghtml).

Diane Silvers Ravitch, historiadora da educação, analista de políticas educacionais professora pesquisadora na Steinhardt School of Culture, Education, and Human Development da Universidade de Nova York e ex-secretária Assistente de Educação dos EUA, em seu livro The Death and Life of the Great American School System  (Vida e Morte do Grande Sistema Escolar Americano) publicado em 2010, esclarece que, para além dos números, o pior do sistema de educação norte americano são as soluções de mercado que estão erodindo os valores públicos e a própria educação pública, como uma instituição essencial para a democracia e para a constituição de uma nação economicamente forte e repleta de oportunidades.

Segundo a mesma autora, “os dados mostram que os EUA ficam atrás de outras nações no fornecimento de cuidados pré-natais e pré-escola de alta qualidade, mas lideram outras nações avançadas em taxas de pobreza infantil e desigualdade de riqueza e renda”.

Para Diane Silvers Ravitch, exatamente ao contrário do que acontece nos EUA e no Brasil, que reduziu a carga horária de disciplinas de ciências humanas e aumentou a de outras, sob o pretexto da formação técnica, para apenas atender à demanda do mercado, “os alunos devem envolver mais do seu tempo no estudo e na prática das artes liberais e ciências: história, literatura, geografia, ciências, matemática, artes, línguas estrangeiras, educação física” e não dedicarem mais horas ao estudo de disciplinas direcionadas para a formação apenas técnica e outras disciplinas mirabolantes e totalmente inúteis, criadas e introduzidas no currículo do ensino médio por charlatães diplomados que ocupam postos na educação do Brasil, que em nada contribuem para o seu real desenvolvimento intelectual e humano, e que se constituem em mero adestramento, faz-de-conta, resultando em verdadeiro retrocesso cognitivo.

No ranking mundial das notas do Pisa de 2022 (publicadas em 2023) em matemática, ciências e leitura, o Brasil obteve respectivamente as notas 379 (abaixo de 64 países e da média da OCDE), 403 (abaixo de 61 países e da média da OCDE) e 410 (abaixo de 52 países e da média da OCDE).

Para o PhD Vitor Henrique Paro, professor emérito da Universidade de São Paulo, “nós ainda estamos procurando formar pessoas que apenas passem de ano – pessoas que tenham um diploma de ensino fundamental”. Segundo o pesquisador, estamos “100 anos atrasados”, continuamos a “confinar 30 a 40 crianças em sala de aula” exigindo que elas cumpram 800 horas, distribuídas em 200 dias letivos” – o que prova que “a ciência não está aplicada à educação”. O professor emérito da USP adverte para os resultados do modelo mercantil de educação implementado no Brasil: “mais de 120 milhões de pessoas que sabem ler e escrever não leem e nem escrevem”; temos “65% de analfabetos funcionais (nome bonito para analfabetos mesmo), analfabetos com diploma” (https://www.youtube.com/watch?v=gSHPLSOSiXQ)  – e muitos deles estão ministrando aulas no ensino fundamental, médio e superior.

Foto ilustrativa.

Ainda segundo o autor de “Professor: artesão ou operário?” (2019) e “O capital para educadores” (2024) – para quem “o SAEB e o ENEM não medem absolutamente nada”, apenas dão dinheiro para empresas privadas” – o salário do professor “é condição para ele não se preocupar com salário”, para que ele “possa comprar um livro”, para que ele “possa ler um livro” (Ibidem). No entanto, o professor no Brasil ganha um salário de miséria.

A situação da educação no Brasil está muito longe de melhorar. Há previsões apenas de piora, uma vez que, como disse Darcy Ribeiro: “A crise da educação no Brasil não é uma crise; é projeto” (https://www.cartacapital.com.br/sociedade/a-crise-da-educacao-no-brasil-nao-e-uma-crise-e-projeto/). Ou, nas palavras de outro autor muito citado, não lido e distorcido pela maioria dos pedagogo(a)s brasileiro(a)s, principalmente pelo(a)s da pseudo esquerda:

“na história da educação e da política brasileira sempre existiu um descuido total em relação à educação, uma falta de respeito que espanta, que dói. Ao mesmo tempo, no discurso dos candidatos políticos – não importa se para presidente da República, governador de Estado, prefeito, vereador ou deputado –, existe sempre um lugar especial para a educação. Eles sempre asseguram que a educação e saúde, em seu governo ou em sua análise da problemática, constituem uma prioridade. Entretanto, acontece que a prática posterior do eleito torna-se absolutamente contrária ao discurso; é a negação de tal discurso. (FREIRE, P. Pedagogia dos Sonhos Possíveis. São Paulo: UNESP. 2001, p.217)

[1] Naep – Avaliação Nacional do Progresso na Educação, feita pelo Departamento de Educação americano. Pisa – Programa Internacional de Avaliação de Alunos, feito pela OCDE.

(Paulo Oisiovici, mestre em História Contemporânea pela Universidade do Porto, autor do livro “Stalin nos Manuais de Portugal e Brasil” (Appris, 2023) e professor de História das redes estadual e municipal em Correntina-BA).

 

 

3 COMENTÁRIOS

  1. Meu caro professor, Paulo Oisiovici, o seu artigo, por sinal muito bem escrito, é, de fato, um documento de reflexão profunda e de incontestável clarividência. Digo, pela clareza dos pontos nele abordados… Depois, ainda, pela inconteste fundamentação científica nele anotada. De fato, este é um texto para ser lido, relido e aplicado por qualquer gestor, que preze por uma postura honesta, responsável e comprometida para com uma educação de excelência. Outrora, teve o Brasil, uma educação extremamente seletiva, como bem afirmou a ministra Carmen Lúcia, através das mídias sociais. Naquele contexto, poucos e agraciados ricos tinham o livre e privilegiado acesso a ela. Hoje, todavia, caminhamos no caminho oposto. Temos uma educação de “porteiras abertas”, porém mercantilista e descomprometida para com os bons resultados e a boa qualidade educacional. Dessa forma, vamos “pendulando”, vivendo no extremo do quanto pior melhor. Em conseqüência disso, estamos cada vez mais perdendo a nossa capacidade reativa, criativa e critica. É neste sentido que vejo a relevância e a excelência da sua reflexão, além de ser um convite para o bom e salutar debate. No mais, só posso lhe dizer: Parabéns! Vamos à luta!

  2. A falta de investimentos não é questão de direita ou esquerda, ambos querem que o povo continue refém, independente de ideologia, um povo sem educação não consegue nem se informar, sai repetindo o que ver na Internet, sem nem entender direito. vota em quem o líder religioso, o artista ou o influêcer mandar.
    Atualmente a Educação é apenas números, Caiado para se envaidece e ter números para colocar nas propagandas do governo da até dinheiro para os estudantes no programa “BOLSA ESTUDOS” do governo estadual, a esquerda não ficou para trás e criou o “PE DE MEIA”. Por fim a intenção dessa política de direita e de esquerda não é melhorar a educação é apenas segurar os alunos, diminuir a evasão escolar sem se preocupar se saem alfabetizados ou não, depois vira números que vai para propaganda dos governos. Depois vão para as faculdades e vira mais números e números

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