Publicado em 30/06/2025 às 19h34.

Donária Guerra foi uma pioneira pró saúde da mulher
Teoney Araújo Guerra

Foto: Donária Guerra/acervo Teoney Guerra.

No domingo (22/06), o Jornal de Correntina noticiou o falecimento de Donária da Silva Guerra, a Dona Narinha, que foi a primeira enfermeira de Correntina. Tinha especialização em “obstetrícia”, em curso concluído em 1947, na Escola de Enfermagem de Obstetrícia Hugo Werneck, na cidade de Belo Horizonte (MG).

Foto: Donária Guerra/acervo Teoney Guerra.

Atuando nessa especialidade, Narinha tornou-se uma profissional importante para a saúde local, em especial, para as mulheres gestantes e as crianças recém-nascidas do nosso município.

Foto: Donária Guerra com seu pai e mãe(Pedro Guerra e Rodezina Guerra)/acervo Teoney Guerra.

Naquela época, fins da década de 1940, o atendimento às gestantes, parturientes e puérperas – as mulheres após o parto – era prestado pelas “parteiras” – mulheres, muitas vezes analfabetas, que não possuíam nenhuma qualificação; detentoras apenas de algum traquejo e conhecimento empírico, repassado por outra parteira mais experiente. Os partos, muitas vezes, eram realizados se improvisando equipamentos com facas ou tesouras domésticas, quase sempre, sem terem sido, sequer, adequadamente esterilizados.

Foto: Donária Guerra/acervo Teoney Guerra. (Turma do curso de Enfermagem).

A falta de conhecimento, a ausência de condições higiênicas satisfatórias e a improvisação durante muitos partos resultavam em mortes da parturiente e de recém-nascidos, cuja causa era o “Mal de Sete Dias”, doença denominada cientificamente de tétano neonatal – uma infecção causada por bactéria, altamente fatal.

Foto: Donária Guerra/acervo Teoney Guerra.

O atendimento qualificado de Donária, então funcionária da Fundação SESP – órgão então responsável pela saúde pública -, propiciou a realização de partos da forma adequada em Correntina. Mas Narinha fez muito mais. Dedicando-se, por um lado, a fazer o acompanhamento das gestantes durante toda a gravidez, e por outro, a conscientizar as grávidas a tomarem certos cuidados necessários para terem uma gravidez saudável. Era o hoje conhecido “pré-natal”, já instituído no nosso país, mas cujo conhecimento estava restrito às escolas de enfermagem obstétrica.

Foto: Donária Guerra/acervo Teoney Guerra.

Esse trabalho de conscientização do “pré-natal” foi motivo de uma dedicação extrema de Narinha. E muitas vezes não era entendido ou aceitado por mulheres que preferiam seguir os hábitos e costumes então vigentes. Mas esse convencimento deu resultados positivos, sim. Não existiam, naquela época, dados que pudessem comprová-los, mas a diminuição das mortes dos recém-nascidos e das mulheres em trabalho de parto foi algo evidente. O reconhecimento das pessoas, até hoje, é outro indicador do sucesso dessa verdadeira campanha pessoal desenvolvida por ela em prol da saúde da mulher.

Foto: Donária Guerra/acervo Teoney Guerra.

São muitos os relatos de pessoas que citam partos dificílimos feitos por Donária, que salvaram vidas. E para exemplificar, vou citar apenas um depoimento publicado por Cássio Alves, filho de Evandro Filardi e dona Cici, nos “comentários” feitos na matéria em que foi noticiado o falecimento de tia Narinha.

Foto: Donária Guerra/acervo Teoney Guerra.

“Uma grande profissional que sempre fará parte da minha história. Nasci antes do tempo, quando minha mãe ainda preparava para viajar a Santa Maria que na época tinha o único hospital da região.
O processo de parto normal, naquela casa, antiga no centro da cidade se tornou um pesadelo pois a minha posição no útero não permitia um nascimento normal. Narinha era a única pessoa na cidade apta a tentar ajudar a minha mãe que sofria horas sem sucesso em dar a luz.

Foto: Donária Guerra/acervo Teoney Guerra.

Horas se passaram e a angústia e o medo aumentavam. Ela fumou várias carteiras de cigarro tentando acalmar os ânimos perante uma situação que parecia sem saída e extremamente desesperadora. Depois de horas sem sucesso, restou uma promessa ao santo do dia para que salvasse minha mãe e ajudasse no meu nascimento.
Finalmente, consegui nascer e meu nome que deveria ser Gutenberg, virou Cássio, para cumprir a promessa que Narinha fez a Santa Rita de Cássia, a santa daquele dia, que permitiu um final feliz à história.

Foto: Donária Guerra/acervo Teoney Guerra.

Cresci escutando esta história e sempre tendo gratidão por alguém que salvou a mim e a min

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.