Publicado em 23/01/2024 às 09h50
Mangueiras centenárias
Teoney Araújo Guerra
Esses exemplares da “mangifera indica”, que nós chamamos de mangueiras ou pés de manga, datam do início do século passado. Foram plantados pelo meu avô materno, o Major Félix (Félix Joaquim de Araújo), por volta de 1900 a 1910, quando ele era um “negociante” de madeira, gado, algodão e cereais em Correntina.
O local onde esses pés de manga nasceram, cresceram e dão frutos até hoje era a Fazenda Belo Horizonte, mais conhecida como “A Chácara”. A propriedade agroindustrial do Major, onde se fabricava rapadura, batido e outros subprodutos da cana-de-açúcar, especialmente a cachaça Bananinha; farinha, tapioca, goma e outros subprodutos da mandioca.
Na propriedade, o Major também criava gado.
A Chácara era ainda o local de lazer da família, onde – especialmente – as filhas, noras, eu e os outros netos e netas do Major passávamos fins-de-semana muito agradáveis. Lá, nós acordávamos bem cedo, ao som dos cantos dos passarinhos e do mugir do gado, e também cedo dormíamos. Durante o dia, tínhamos inúmeras brincadeiras: corríamos pelo mato e no canavial, caçando com estilingue, montando em cavalos, subindo em árvores, tirando e comendo frutas nos pés, pescando piabas, traíras e bagres no rego. O ranger dos carros de bois, que transportavam a mandioca e a cana das roças para o terreiro, onde as atividades agroindustriais eram realizadas, era um som que nos encantava, nos atraía, e atrás deles corríamos, para “pongar”; uma vez ”pongados”, sentados na traseira, sentíamos uma alegria imensa.
As noites, às vezes claras pela luz da lua, outras vezes, escuras, tendo a casa iluminada à luz do “Aladim” e do candeeiro, nos traziam os temores do coaxar dos sapos, o piar das cobras e os voos dos morcegos. Mas também nos divertíamos contando histórias e estórias. Os sons dos animais notívagos nos traziam o sono, quase sempre acolhidos e aconchegados em um colo.
A rua da cidade que hoje é denominada oficialmente de “Rua da Chácara”, naquele tempo era conhecida por uns como “a ponta da rua*”, e por outros como “a rua da chácara”, por ser o caminho para a propriedade do Major – apesar de ser, também, o acesso a outras propriedades, como a Tabua, a Cobra Verde e ao povoado de Macacos – cujo nome foi depois, mudado para Silvânia.
A Chácara foi vendida pelo meu avô, na década de 1970, para Vanderlino Coletor. Hoje, pertence à família de João Dentista.
*Toda a sequência de vias públicas iniciada na cabeceira direita da ponte sobre o Riacho Vermelho, hoje denominadas de: Travessa da Liberdade, Praça Raimundo Salles, Praça Caboclo e, depois do semáforo – saída para Santa Maria -, a Rua da Chácara – que até por volta do início dos anos 70, terminava mais ou menos onde hoje é a loja Construrápido -, era considerada, até lá pelo final da década de 1960 e início da década seguinte, uma única rua. Por isso, da cabeceira da ponte até o semáforo ela era conhecida como “rua da fusaca” e a partir daí, de “ponta da rua”.
*Teoney Araújo Guerra é jornalista provisionado.