Publicado em 15/06/2024 às 09h26

Por Antônio Rocha Souza.
Por Antonio Rocha Souza

DESCULPE, MAS POR QUE TE DESFIGURARAM TANTO…?!!!

Tenho saudades de tantas coisas… Saudades do rio cheio, das matas ciliares enfeitando as suas margens, da igreja matriz de luzes acesas tocando o sino pros fiéis rezarem, dos arvoredos enfeitados caindo, da quadrilha junina dançando, e o samba de dona Sú “pipocando” no alto do cemitério. Ah… São tantas coisas a relembrar que passaríamos noite e dia falando.

Foto: Grupo Relíquias/facebook

Mas o que me tira mesmo o sono é a sua cara. É que tenho olhado no seu rosto e, Já não é mais o mesmo. Tem os seus traços desfigurados e desarmonizados pela erosão do tempo. Você Correntina, tinha um rosto lindo, com as suas belas linhas arquitetônicas delineadas e bem desenhadas. Mas, com que descuido você foi descuidada? Não culpo ninguém… Só sei que nós fomos descuidando, descuidando… e você, se desfazendo, se desfazendo… até não mais ser reconhecida. Como era linda…! E até ganhara o título de cidade carícia, sendo a que melhor retratara a chegada e ocupação do povo português no interior do Brasil.

Foto: Grupo Relíquias/facebook.

Por um cochilo. E apenas por isso… é que o seu formoso centro histórico se perdeu na história, com a sua igreja de torres imponentes e empinadas, bem como os seus prédios e casas de formas rebuscadas. Sim, eu me orgulho de seus mestres e engenheiros práticos. Você tinha até um Cine teatro no alto edificado, onde a cidade se entretia com cinemas, dramas e festas. E agora existem apenas em velhas e privadas fotografias. Mais uma pergunta: Por que é que todas as cidades se orgulham do seu rosto e da sua alma, enquanto você se deixa definhar?

Foto: Grupo Relíquias/facebook

Não, Correntina. Não era isso que eu queria para ti. Mas você nem deu bolas a essas perguntas retóricas e tampouco se importou. Entrou de vez na onda da inovação, na febre da modernidade… E assim trocou a sua arquitetura por concretos e cimento armado, construídos às pressas só para atender o padrão e o patrão, com ares de civilidade.

Foto: Grupo Relíquias/facebook.

Tudo agora parece smilinguido, sem forma e sem cor. Onde estão os seus poetas, os seus costumes, a sua beleza lírica e os encantos dos seus literatos e idealizadores? Não! Já não é mais a mesma…!  Não tivera a mesma sorte do agro pop. Ali há defesa permanente: dinheiro, arma e gente… Mas você… Quem há de te defender?

Foto: Grupo Relíquias/facebook.

Ah Correntina… Por que te rasgaram as entranhas e secaram as suas veias, tornando lhe tão pálida? Já não vibra como antes. Há quem diz que você cresceu e que está mais bonita! Mas, a que preço? Tem hoje uma beleza efêmera e frágil, proveniente de tantas perdas. Ah minha amada cidade… que cresce desordenadamente pra todos os lados e estradas… Com quem há de dividir as consequências e quem há de te curar as feridas?

Desse modo não há poder público que dê jeito. Isso porque, as políticas, centradas em polidas conveniências, traduzidas por laços de compadrio, dão asas a uma progressiva desorganização. É que o poder fiscalizador do seu povo não é mais poder. Desiludiu,  minguou, desanimou e sucumbiu.

Foto: Grupo Relíquias/facebook.

Não ponho em dúvidas que há conquistas a celebrar: Escolas multiplicadas, saúde ampliada… Tudo em quantidade, mas diminuto em eficiência e qualidade. É que a nossa a sociedade, há muito perdeu o seu senso de pertença. É como se mais nada lhe fizesse sentido, lhe pertencesse ou lhe fizesse importância. Constituindo–se num verdadeiro vazio de consciência de pertencimento.

Foto: Grupo Relíquias/facebook.

Assim é o que parece… O que aparenta ser!  Parafraseando o Santo africano bispo de Hipona, arrisco dizer que onde a riqueza abunda, a miséria superabunda…  É que o progresso chegou até Correntina, contudo, o número de pobres só ampliou. Como equilibrar? Uma equação difícil de compor, e que não se resolve com números, mas com sensibilidade e justiça social.

Texto de Antonio Rocha de Souza.

5 COMENTÁRIOS

  1. Mais uma inestimável contribuição do nosso amigo Antônio Rocha, para o acervo cultural sobre a história de Correntina. Trata-se de mais um texto qualitativo, substancioso, apreciável e gostoso de se ler.
    O autor é digno de aplausos!

  2. A vocês: Luka, Gecilio, Guto e Hermano… O meu muito obrigado…! De fato, a intenção é essa… Gerar re”exão e debate através da provocação de um tema, que diz respeito a todos nós que amamos Corren)na. Fico sa)sfeito e grato pela leitura e reação de todos vocês. Obrigado!

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