Publicado em 25/02/2025 às 07h07.
Por Antonio Rocha: O SACRISTÃO BABUJO E AS BADALADAS DO SINO…
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Discreto, cordato, benquisto e reservado. São esses os principais traços característicos do Sacristão Babujo (Joaquim Araújo), nascido e radicado na cidade de Correntina. Além do mais, tornou-se o fiel escudeiro do padre. Em ocasiões de missas, sacramentos e solenidades, sempre estava aposto, pronto para auxiliar o vigário, na igreja. Não que aquilo fosse a sua profissão, o seu ganha pão, posto que a sua atividade profissional era o exercício da marcenaria, ofício aprendido, certamente, do próprio pai.
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Sabe-se, também, que todos os dias Babujo era visto passando calçado de chinelos, canivetinho na cintura e um palha de milho para fazer cigarros, na algibeira. De porte franzino, deslocava-se com agilidade por entre as ruas tortuosas da cidade, com a costumeira rapidez. Partindo da rua defronte à farmácia de Valdemar, cortava a Rua de Pedro Guerra e subia a praça da matriz, absolutamente concentrado, como se estivesse a meditar as contas do terço da virgem Maria. Em seguida, escalava os degraus da escada frontal da igreja, para depois subir a torre que dava acesso ao sino. Saía espantando pardais e morcegos, que se aglomeravam por todos os lados. Já no topo, assentava-se num quadrado de madeira e começava a puxar a corda, tocando as 33 badaladas do sino, convidando os fiéis para rezar.
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Intrigante é que as pessoas, normalmente, tinham duas percepções de Babujo: a de um homem santo, que chamava os fiéis para a missa; a de um ser que prenunciava mau agouro, quando o seu sino anunciava notícias fúnebres. De modo que, quando Babujo passava cabisbaixo e compenetrado, muitas pessoas já arriscavam um palpite, dizendo: alguém morreu! Fora isso, Babujo, nos momentos de descontração, era uma pessoa alegre, extrovertida e piadista, sempre com um pedaço de fumo de rolo no bolso, uma binga na mão e um maço em palha na algibeira, para quando lhe desse vontade de fumar um cigarro.
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Babujo dava umas boas baforadas sem, contudo, interromper a prosa. Entretanto, quando notava que o padre ia se aproximando, logo interrompia a piada, guardava o sorriso e se apresentava ao vigário perguntando: “o senhor precisa de alguma coisa?”
Uma curiosidade que nunca me passou pela cabeça, foi a de perguntar se Babujo ganhava alguma coisa pelo serviço. Isto eu não sei. Mas sei que era solícito e disponível. Quando Babujo não estava na igreja, poder-se-ia encontrá-lo na oficina, como José na sua carpintaria em Nazaré.
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Finalmente, lembro-me que a cidade à época tinha apenas dois profissionais da comunicação: o homem do serviço de alto-falante e o sacristão badalador do Sino. Ambos anunciando, ora notícias tristes, ora noticias alegres e alvissareiras. Hoje, naquela cidade, já não se escala mais as escadas da torre da matriz, tampouco se fala mais em alto-falantes. A nova tecnologia ocupou esses espaços. Agora é tudo remoto, pois os novos dispositivos são sensíveis o bastante, exigindo de nós apenas o apertar de um botão.
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