Publicado em 07/04/2025 às 16h28.

Por Gecílio Sousa – O CACHACEIRO

01. Tenho andado refletindo
O quanto a pinga é malvada
Ela faz o cachaceiro
Perder o rumo da estrada
É cliente vip do bar
Um inimigo da enxada
Compra fiado e não paga
Deixa a conta pendurada
Que com a antiga soma
Cada dose que ele toma
Parece tiro de espingarda

02. Cai aqui, caia acolá
Feito caça mal atirada
Tropeça nas próprias pernas
Como vaca mal sangrada
Caminha em zigue-zague
Do centro para a beirada
Aqui e ali uma rasteira
Lhe dá uma desandada
Em zigue-zague e currupio
Toco, pedra e meio fio
Ele dá chute e pesada

03. O corpo em desequilíbrio
Cai em cima da calçada
Resmungando e babando
Não tem mais noção de nada
Às vezes desaba no choro
Outras vezes dá gargalhada
Se levanta tonto e trôpego
Com a visão embaçada
Uma pichula na mão
Chega em casa valentão
Geralmente à madrugada

04. Mal acerta com o portão
Chuta os degraus da escada
Suas ideias são tão firmes
Quanto firme é sua pisada
Não consegue tirar o sapato
E calça a sandália trocada
O odor se exala dos pés
A casa fica infestada
Chega de chapéu na testa
E com a braguilha aberta
E a camisa desbotoada

05. Faz ameaças à esposa
Escorraça a criançada
Porém a sua valentia
É um festival de zoada
Os vizinhos dão notícias
Da doméstica trapalhada
O cachaceiro adormece
Com a pança estufada
No dia seguinte cedo
Acorda cuspindo azedo
Com a cara amassada

06. Hematomas na cabeça
No lombo sinal de pancada
Na boca não vai escova
O seu banho é uma chuvada
Toma pinga no boteco
E em casa tem guardada
Ele é motivo de chacota
Figura desacreditada
Baba e vomita na fronha
É intruso e sem vergonha
Assedia a mulherada

07. O que fala é sem proveito
Sua cara é muito safada
Pelas ruas da cidade
Sua vida é mal falada
Já não tem vontade própria
Sua mente está viciada
Pode ser que já esteja
Com cirrose avançada
Sua situação é a mesma
Essa alma está enferma
E precisa ser tratada

08. É sofrida e lamentável
A vida da mulher casada
Cujo marido é pinguço
Ela está na encruzilhada
Décadas de amolação
Que ela aguenta calada
Apostou no casamento
Mas a aposta deu errada
Sem saúde e sem dinheiro
A mulher do cachaceiro
É uma santa sacrificada!

Gecilio Souza – Bacharel em Direito, Licenciado e Mestre em Filosofia e professor no UniCEUB – Centro Universitário de Brasília.

 

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.