Foto ilustrativa.

Publicado em 19/04/2025 às 17h17.

TRUQUES DA SEMANA SANTA
Por Gecílio Souza

Escrevo mais e falo menos
Para poupar minha garganta
Além do mais escrever
Me apraz e me encanta
A quantidade de assuntos
É tão vasta que espanta
A disposição de abordá-los
Que trago comigo é tanta
Chego a escrever de pé
A escrita é meu café
Meu almoço e minha janta

A poesia é meu cônjuge
Comigo deita e levanta
No fértil silêncio da noite
Me envolve com sua manta
Às vezes que me atraso
Ela então se adianta
Nas profundezas da mente
As ideias ela planta
E hoje em particular
Levou-me a pronunciar
Sobre a semana santa

E quando a crença suplanta
A razão que não obedece
O dogma apaga a luz
Todo o mundo se escurece
Substitui o raciocínio
Pela repetição da prece
Um preposto do senhor
A todo momento aparece
Propagando o catecismo
Poderoso mecanismo
Que aliena e emburrece

Quanto mais se multiplicam
A ignorância se recrudesce
O esquema é tão complexo
Que a maioria desconhece
Muita gente vai dormir
Do jeito que amanhece
Em absoluta abstinência
O corpo é o vilão que padece
Sábado de aleluia os errantes
Repetem o que faziam antes
E a realidade permanece

Foto ilustrativa.

Tudo então se desvanece
E o “Deus” volta aos nirvanas
Os seguidores se enaltecem
Sorrindo batem pestanas
Um ano inteiro é composto
De cinquenta e duas semanas
Mas somente uma é “santa”
Em que as menores filigranas
Sugerem a presença divina
Na gravata ou na batina
Nas intersecções mundanas

As outras cinquenta e uma
Pela lógica são profanas
Ao longo deste período
Trepam até nas ratazanas
Os desejos se extravasam
Quantas ocasiões bacanas
Seguem uns matando os outros
Persistem mansões e cabanas
Ainda restam os domingos
Dos desabafos e choramingos
Pelas estripulias sacanas

A páscoa e outros costumes
Que aqui fizeram valer
São tradições europeias
Outras formas de poder
Que dominam as consciências
E o povo sem perceber
Se dispõe de boa fé
Aos esquemas obedecer
Mas ao ver outra saída
No lusco-fusco da vida
É outro o seu proceder

Cinquenta e uma semanas
Fazem o que desejam fazer
Às ocultas tudo pode
O chefe não vai se ofender
E o supremo é tão “bom”
Que jamais deseja “ver”
Diversão, bebida e carne
Orgias, sexo, prazer
Afinal a quaresma se foi
Então sobra para o boi
Que se safou de morrer

Foto ilustrativa.

Não consigo absorver
Estas crenças capciosas
É Deus pra lá, Deus pra cá
Meras enfadonhas prosas
Que se deslizam dos lábios
De almas sujas e sebosas
Que no dia-a-dia praticam
As ações mais horrorosas
Parecem anjinhos sem asas
Nos templos, ruas e casas
Distribuem panfletos e rosas

Foto ilustrativa.

Quantas mentes doentias
Quantas línguas venenosas
Aparências encantadoras
E essências maliciosas
Suas línguas mensageiras
Têm salivas perigosas
Por isto a todos dirijo
Minhas sugestões respeitosas
Reclamem, xinguem ou sorriem
Mas por favor não me enviem
Suas mensagens religiosas

Gecilio Souza – Bacharel em Direito, Licenciado e Mestre em Filosofia e professor no UniCEUB – Centro Universitário de Brasília.

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