Publicada em 20/12/2025, às 20h40.

AS PARADAS OBRIGATÓRIAS NOS PONTOS DE SAIDA DE CORRENTINA

Com uma espécie de recaída nostálgica, esse articulista traz às leitoras e aos leitores notícias sobre algo antigo que, contextualizado, reveste-se de roupagens plenamente modernas. Correntina parece ter sido plantada sobre um buraco mas, com o passar dos anos, vem avançando pelas encostas e expandindo-se cada vez mais celeremente, a despeito dos íngremes acidentes geográficos que caracterizam seus locais de acesso. Devido às suas naturais características, a necessidade de uma pausa no topo do elevado, que se apresenta como o ponto mais alto da região, é imperiosa. A propósito, o costume vem desde quando a cidade ainda era Vila. Regista-se que, em todas as saídas, havia sempre uma porta aberta, um boa alma disposta a oferecer condições de restabelecimento das forças do viajante, invariavelmente exausto da viagem.

Às margens da rodovia de acesso a Goiás, encontrar-se-ia dona Franciscona, uma senhora extremamente afável, mãe de Aurelino, popularmente conhecido como Olerino. Em sua elevada residência, habitualmente ela servia um gole d’água fria e um cigarro de fumo, ao passante. Já na saída para Santa Maria, o cidadão estradeiro contava com a guarida dos bem-afeiçoados seu Anjo e Felão, radicados na parte mais alta do Barrocão. Quanto aos que trafegassem na direção da saída do estreito, contavam com os préstimos de Pedro Ferreira e Pedro guarda, que serviam raspa de rapadura com farinha. Por outro lado, aqueles que buscavam a saída de Barreiras, tomavam uns pileques de conhaque ou de brejeirinha para enfrentar a estrada, exatamente na casa de Sá Dominga, mãe de Fia de Felão da Vereda Grande.

Das quatro saídas da cidade, talvez fosse a Extrema o lugar mais rememorado e celebrado e rememorado, por tratar-se de uma espécie de entreposto, lugar de parada quase obrigatória. Era um via estradeira onde trilhavam boiadas e boiadeiros, carreiros e vaqueiros, conduzindo reses bravas e arredias. Por ali também passavam muitos roceiros, sobrecarregados, com a finalidade de vendar seus produtos na feira da cidade. A cavalo ou à pé, uma mutuca de coisas daqui, outra d’acolá, para posteriormente retornarem para casa com o pão Frances, o café, a aspirina, o sal e um metro de tecido de pano. Era exatamente na extrema, o ponto de descanso, do respiro, do fazer a meia boca, de tomar uma dose de pileque, para dar sequência à jornada.

A extrema funcionava como um posto de abastecimento, onde abastecia-se a coragem e recompunha-se a energia, porque após um dia extenuante, carecia de um choque nos nervos, com uma dosinha de aguardente. Às vezes o entusiasmo do encontro, o torpor e a embriaguez pela cachaça, fazia a prosa prolongar-se. Quando isso acontecia, o freguês pedia pouso por ali mesmo, na casa da própria Sá Dominga. Com o decorrer do tempo, o boteco de Amélia de Juvêncio é que sucedeu e herdou a clientela daquela senhora. Vale lembrar que, posteriormente, coube ao falante e bem articulado João de Cícero, servir às novas e antigas clientelas que trilhavam pela estrada da extrema, rumo aos inúmeros povoados daquela região.

João de Cícero era famoso na região, camarada receptivo e bom de prosa. Na sua gestão é que as atividades comerciais do local cessaram. Seria Cícero um mau gestor? Não, foi a seca, motivo pelo qual João se viu obrigado a vender tudo e mudar-se para a zona urbana. Indubitavelmente, a extrema era um lugar meio ermo, desprovido de água e energia, além de praticamente despovoada. As cenas corriqueira dali eram as de camponeses consumindo suas energias, descendo e subindo ladeiras, que ó terminavam no assentado do João. Era lá que recompunham as forças, visando a alcançar a bifurcação para o Brejinho, Pedra Branca, Matão e Ponte Velha.


Hoje, feita essa constatação, os locais então considerados distante na época, transformaram-se em perímetro urbano, absolutamente distintos de outrora. O lugar abriga bairros que desenvolvem e crescem aceleradamente, ostentando edificações modernamente projetadas.





