Publicado em 28/10/2024 às 10h26

Foto: Teoney Guerra.

Armarinho Silva: o comércio mais antigo em atividade de Correntina

por Teoney Araújo Guerra*

Há 62 anos, o comerciante João Batista da Silva, mais conhecido com João Binga, ingressou na atividade comercial, ao abrir na cidade de Correntina um estabelecimento que está registrado na Junta Comercial da Bahia no segmento de Armarinho.

O pequeno negócio data de 10 de agosto de 1962, quando o jovem João Binga exercia a profissão de pedreiro. Recém-chegado de Brasília, onde tralhara na construção da capital federal, João Binga tinha planos de abandonar a profissão e se estabelecer no comércio. Como não podia abandonar imediatamente a atividade profissional, o jovem, ainda solteiro, teve a colaboração imprescindível da irmã, Sianinha, para poder se estabelecer na nova atividade. Era ela quem “tomava conta” da loja durante o horário de trabalho do irmão. Isso até fevereiro de 1965, quando ele se casou. A partir daí, “tomar conta da loja” passou a ser responsabilidade da esposa, dona Osvaldina. Nos dias em que não trabalhava nas obras, João assumia o balcão e a parte administrativa do comércio: fazendo a escrituração dos livros, verificando e recompondo o estoque, fazendo os pedidos. Na época, as compras para o estabelecimento comercial eram feitas através dos representantes das fábricas e das distribuidoras, que vinham frequentemente à cidade, onde eram denominados de “viajantes”.

Foto: Teoney Guerra.

Naquele tempo, a legislação ainda não exigia que um contabilista fosse o encarregado da abertura das empresas e do serviço de escrituração dos livros fiscais. E “curioso”, o comerciante aprendeu com o então coletor estadual, Tito Lívio Soares, a fazer todo esse serviço. João Binga até ganhou algum dinheiro fazendo a escrituração de outros comerciantes da cidade.

No ano de 1965, depois de mudar o endereço do seu pequeno negócio por três vezes, o comerciante comprou a casa própria, instalando no imóvel próprio o seu estabelecimento comercial; endereço que é o mesmo hoje, na rua Otaviano Pereira dos Santos.

Em data que não se recorda com precisão, abandonou a profissão de pedreiro, se dedicando exclusivamente ao seu comércio. Foi quando passou a atuar como mascate, vendendo as mercadorias da loja no interior do município: nas povoações e distritos, nas feiras e de porta em porta. O armarinho continuava sob “os cuidados” da esposa.

Foto: Teoney Guerra.

A partir do ano de 1979, João Binga passou a fazer parte das compras direto dos fabricantes e dos distribuidores – mas ainda adquiria produtos dos “viajantes”. Para isso, se deslocava periodicamente para São Paulo, Belo Horizonte e Goiânia. Um período de muitos sacrifícios que foi encerrado na década de 1980, quando voltou a comprar dos “viajantes”. Forma de comprar que é mantida até hoje.

Estabelecido no comércio há mais de seis décadas, João Binga é hoje o mais antigo comerciante da cidade em atividade, e o seu Armarinho Silva, o negócio mais longevo, que sobreviveu a crises e planos econômicos, às transformações no comércio e às mudanças dos hábitos que tornaram parte das mercadorias nele comercializadas em gêneros, utensílios, itens e objetos antiquados. De um tempo em que as lojas eram negócios minúsculos, instaladas, quase sempre, em pequenos cômodos de duas portas localizados na própria residência do comerciante. E ainda hoje, o Armarinho Silva é assim. Um pequeno cômodo com duas portas de frente para rua, sem placa nem letreiro, parte da residência da família Batista Silva.

Foto: Teoney Guerra.

Em todo esse tempo de atividades, o Armarinho Silva passou por poucas mudanças. Não dispõe mais do velho balcão de madeira, que há umas quatro décadas foi substituído por balcões de fórmica, e as prateleiras de madeira, mais ou menos no mesmo período, foram trocadas por outras de um material ferroso, que ainda têm, entretanto, penduradas na sua estrutura, as antiquíssimas folhinhas – calendários – estampadas com rostos de santos. Há mais ou menos três décadas, o comerciante adotou no seu dia a dia um equipamento – então – de alta tecnologia, uma calculadora – analógica -, que pouco uso teve ou tem, em razão de João Binga ainda ter decorado na memória as quatro operações aprendidas nos anos em que frequentou a escola. “As contas eu ainda faço com a caneta, somando, diminuindo, multiplicando ou dividindo”, com diz.

O velho papel de embrulho, em bobinas, ainda embala muitas compras dos fregueses, apesar de se usar também as sacolinhas de plástico, e a balança mecânica com o ponteiro que indica o peso do produto vendido, ainda pesa pregos e outras mercadorias. O caderno e a caneta para anotar o fiado ainda fazem parte da rotina no estabelecimento. “Acredito que nesses anos todos, já enchi uns 40 a 50 cadernos com as compras feitas fiado”, diz o comerciante.

Foto: Teoney Guerra.

O estoque, composto pelo mesmo mix de mercadorias que se comercializava há 62 anos: botinas, enxadas e outras ferramentas agrícolas, chapas para fogão, linhas para costura, zipers, isqueiros, aparadores de unhas, linhas de pesca e anzóis, pentes, tintol – tinta para tingir tecidos – entre centenas de outros produtos, é o mesmo de uma época em que o comércio local, incipiente, atendia a população local com os gêneros de primeira necessidade, e apenas no que era imprescindível: gêneros alimentícios, utilidades domésticas, ferramentas, tecidos, calçados, bebidas, e uma grande quantidade de quinquilharias úteis em diversas atividades, como costura, bordados, pesca, etc.

Estoques, móveis, e tudo o que há no armarinho hoje, tornam esse estabelecimento comercial, único, em Correntina. Um ambiente exíguo e simples, com ares de “antigamente”, que guarda as características de um período que longe vai no tempo. Por isso, o Armarinho Silva não é apenas um estabelecimento comercial antigo, é também o guardião de parte da memória do comércio local.

*Teoney Guerra é jornalista provisionado e escritor memorialista

4 COMENTÁRIOS

  1. Muito bonito a história do senhor João binga, lembrando também que dá mesma época do senhor João Binga, existia muitos outros, inclusive meu pai que acabou ensinando seus filhos essa profissão.
    👏👏

  2. Além do lado empreendedor, João Binga tem um gigantesco coração pautado para o Social; Foram inúmeras as pessoas que ele beneficiou da forma que podia.

  3. Sr João Binga, homem de fibra,determinado em tudo, adorei conhecer um pouco da sua bonita história, parabéns Sr João,que tenha mta saúde, que Deus o abençoe

  4. Sr João Binga, homem de fibra,determinado em tudo, adorei conhecer um pouco da sua bonita história, parabéns Sr João,que tenha mta saúde, que Deus o abençoe

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