Publicado em 25/05/2023 às 7h45
Piscicultura se expande no município
Perspectiva de crescimento tem na merenda escolar o principal público consumidor
Alheia a crises que possam estar sendo sentidas por outros segmentos da economia, a piscicultura vive um momento extremamente positivo em Correntina.
O setor que há mais ou menos uma década vinha buscando a sobrevivência, vive um novo momento, de consolidação como atividade econômica rentável, com perspectiva de muito crescimento no médio e longo prazo.
Nesta matéria, enfocamos a situação em Correntina, porém, ela é semelhante, em outros municípios da região oeste da Bahia.
A piscicultura se desenvolve apoiada a três públicos consumidores: os alunos da rede pública municipal – merenda escolar -, o comércio em geral e os pesque-pague. Sendo os dois primeiros, os que apresentam as maiores perspectivas de crescimento futuro.
No nosso município, cerca de duas centenas de pequenos e médios e um grande piscicultor produzem cerca de 200 toneladas de – especialmente – curimatá, tambaqui, piauassu, pintado, tilápia e pirarucu por ano. Produção que, em parte é comercializada in natura, para peixarias e outros estabelecimentos comerciais, enquanto a maior parte é comprada por um frigorífico que a beneficia de forma industrial. Uma quantidade bem menor atende ao mercado dos pesque-pague, com o peixe vivo – não se sabe ao certo, quanto representa cada uma dessas partes.
Mais de 80% – talvez 90% – dos piscicultores produzem na forma de economia familiar, porém, há empresários de médio porte, com propriedades significativas, como Reinaldo Costa de Alcântara, o Rei de Reinaldo ou Guará, e Fenelon de Araújo Guerra, para citar apenas dois.
Dono de 11 tanques, Rei de Reinaldo produz 5 toneladas de peixes por ano. Desse total, o empresário vende cerca de 50% direto ao consumidor, outros 40% também no ponto de abate para peixarias, e os 10% restantes para os pesque-pague.
Outro empresário que tem na produção de peixe a principal atividade na sua propriedade rural é Fenelon, que está há menos tempo no negócio. Nos quatro tanques da sua fazenda, ele produz cerca de duas toneladas/ano, que comercializa a peixarias e outros pequenos estabelecimentos.
ECONOMIA FAMILIAR – Estima-se que não mais do que duas dezenas desses empresários são considerados médios piscicultores. A grande maioria é formada, portanto, por produtores da economia familiar. São famílias que têm um ou dois tanques na pequena propriedade onde moram, e dependem dessa atividade para a sobrevivência, fazendo dela uma renda complementar.
Por isso, é de fundamental importância a participação do poder público no auxílio ao setor. Essa participação já vem de alguns anos, mas, na sexta-feira passada (19), a administração municipal lançou o Programa de Fortalecimento da Piscicultura no município.
Com esse programa, a prefeitura vai disponibilizar aos produtores da economia familiar máquinas para abrir ou fazer a limpeza de tanques, distribuir alevinos e prestar assistência técnica. No momento, a Bahia Pesca, agência do governo estadual, é que fornece os alevinos.
Em parceria com a Central das Associações (CA), entidade que congrega 26 associações de agricultores e piscicultores da economia familiar, a prefeitura está viabilizando a compra de uma fábrica de rações, e assim, diminuir os custos desse ingrediente da cadeia produtiva.
“Temos [produzimos no município] muito milho, soja e temos água em abundância; conseguindo essa fábrica, vamos poder fabricar aqui [no município] a ração, e diminuir de forma significativa os custos de produção”, afirma o secretário de Agricultura do município. Hernanes Tavares de Moura.
PRODUÇAO INDUSTRIAL – O principal empresário do setor no nosso município é Prudente José de Morais, morador da cidade de Santa Maria da Vitória, onde já foi prefeito. Nos seus 19 tanques, que ocupam uma área de três hectares – e corresponde a três campos de futebol –, Prudente produz, por ano cerca 50 toneladas de peixes. Na sua fazenda, o uso de aeradores permite uma produtividade maior do que nas demais – até duplicar a produção em uma mesma área.
É dele o frigorífico Pescados Rio do Meio, que compra e industrializa boa parte dos peixes produzidos pelos pequenos e médios piscicultores de Correntina, algo em torno de 90 toneladas. No seu frigorifico, o peixe é transformado em carne moída e almôndegas, que são vendidas às prefeituras de Correntina e outras cidades, para a merenda escolar, e também para mercadinhos e supermercados, em cerca de uma dezena de cidades da região.
MERCADO EM EXPANSÃO – É Prudentes quem melhor conhece o setor nos municípios da região oeste. À Coluna, ele afirmou que esse é um segmento em plena expansão, “e tem muito a se desenvolver”, ressaltou.
Para dar uma noção do que esse mercado pode crescer, ele exemplifica citando apenas a merenda escolar, que nos municípios daqui do oeste baiano vem recebendo, cada vez mais, a proteína dessa carne branca.
De acordo com o empresário, em todo o oeste baiano há cerca de 400 mil alunos nas redes públicas de ensino municipais. E tendo por base o que normatizam os órgãos do governo federal, que aconselham o consumo médio por aluno em 60 gramas diárias de proteína na merenda escolar, o consumo nesses estabelecimentos pode chegar, pelo menos, a 24 toneladas por dia. “Isso é só um exemplo do que esse mercado pode crescer”, diz ele, confiante no potencial desse mercado consumidor e afirmando que o consumo hoje é infinitamente menor.
Juntando esse potencial mercado consumidor ao do comércio regional, onde a carne moída e almôndegas já são comercializadas, mas podem alcançar uma fatia maior, é de se ter confiança de que essa atividade tem tudo para crescer de forma exponencial.
O que será bom para todos: pequenos, médios e grandes piscicultores. Gerando mais renda, empregos, fortalecendo o setor e a economia regional, e, “para os produtores familiares, melhor qualidade de vida, mais comida e conforto em casa”, como destacou Cláudio Duarte da Silva, presidente da Central das Associações.