Publicada em 02/06/2025 às 09h13.

Antonio Rocha.
ANTÔNIO ROCHA: Graduação em Filosofia pela Pontifícia Universidade Católica de Goiás, Curso livre em Teologia, especialização em Filosofia Clínica, pelo Instituto Packter e mestrado em Ciências da Religião pela PUC Goiás.

 

Foto: Michael Delgado.

O DIVINO E A SANTA DO ROSÁRIO NOS FESTEJOS DE CORRENTINA.

Tradicionalmente, o mês de junho é um dos meses mais bonitos e festivos do nosso calendário anual. Nesse período os católicos festejam vários santos e protagonizam o entrelaçamento do sagrado com o profano. Além do que, com sua temperatura suave, junho tornou-se propício às celebrações pirotécnicas, tendo os fogos como elemento associado. Domingo último passado, exatamente no primeiro dia do mês, a cidade foi abrilhantada com as chegadas das bandeiras do Divino Espírito Santo e de Nossa Senhora do Rosário. Vieram de lados opostos: um par de bandeiras vinda do Tatu e o outro, da região do rio do meio.

Vídeo: Louro de Manim.

As bandeiras vermelhas e brancas foram recebidas com festas, devoção, fogos e banda de música. Além de agregar cantos religiosos executados por foliões, aglutinou uma multidão de devotos e curiosos pelas ruas da cidade. Partindo de um ponto comum, sob efusivos aplausos, a procissão evoluiu-se ao som de dobrados da filarmônica, rumo à igreja matriz de Nossa Senhora da Glória, onde foi recepcionada pelo senhor vigário. Essa tradição perdura-se de longa data, cultivando o legado da secular influência portuguesa, entranhada em todas as regiões do Brasil.

Vídeo: Louro de Manim.

No caso particular de Correntina, essa festa sempre trouxe fartura e entusiasmo, constituindo-se numa das maiores expressões de fé da comunidade católica. Na ocasião, há fartura de reza, de comida, de festas, de encontros e, sobretudo, de expressões simbólicas pertinentes ao sobrenatural. Trata-se de uma festa verdadeiramente popular, onde se celebra o encontro do campo com a cidade, dos pobres com os ricos, dos crentes com os não crentes e dos religiosos com os agnósticos. Pelo caráter ecumênico que adquire, representa a plena celebração da vida.

Vídeo: Louro de Manim.

Visualizar aquelas imagens coloridas das bandeiras circundadas pela multidão de damas e cavaleiros, de devotos e penitentes, animadores musicais e auxiliares voluntários é, de fato, uma interlocução celebrativa fundada na convicção de que nem tudo está perdido. A propósito, parafraseio o cantor Gonzaguinha: “….a gente não quer só comida, a gente quer diversão e arte…” Eu ousaria acrescentar: além de diversão e arte, a gente quer uma fé viva e acesa, para além das aparências. É oportuno lembrar que, no entendimento de um referenciado cientista do nosso país, por sinal correntinense, Correntina figura-se como um dos exemplares arquitetônicos mais íntegros e autênticos, saldo da ocupação portuguesa no coração do Brasil. A célebre Festa do Divino e as magnetizantes cavalhadas, com suas evoluções num teatro a céu aberto da cidade, são os aspectos positivos que a cidade cultiva da cultura portuguesa.

Vídeo: Michael Delgado

Vídeo: Michael Delgado

Tal prática, além de fortalecer a fé católica, fertiliza a unidade, solidifica a cultura, mantém as tradições e consolida a identidade do nosso povo. A vocação da vida se traduz na própria celebração, que precisa ser permanente. Oxalá Correntina tenha razões para celebrar sempre suas conquistas, estabelecendo como plataforma irrenunciável, promoção do bem estar do seu povo.

3 COMENTÁRIOS

  1. Que texto maravilhoso! Rico no seu conteúdo e no estilo incomparável de seu autor! Para mim, o simbolismo mais lindo da Festa do Divino, herança lusa como bem assinalado neste texto, é o vermelho de suas bandeiras! Parabéns, Correntina, por manter sua tradicional Festa do Divino e por gerar, do seio dos mais humildes, um intelectual (na mais pura acepção do termo) do quilate de Antônio Rocha de Souza! Parabéns ao Jornal de Correntina por nos brindar com mais este rico e belo texto de Antônio Rocha de Souza!

  2. Cultura imposta pelos colonizadores aos africanos, indígenas e cristãos novos né, mais mesmo assim devemos preservar essa cultura, a Bahia é o berço da colonização do país, essa e muitas outras culturas herdadas pelos colonizadores fazem parte da nossa identidade. Por fim, os festejos de São João aqui em Correntina deveria voltar a ter destaque, nos últimos anos foi totalmente ignorado, e seria até bom para o turismo na cidade!

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