Publicado em 17/06/2025 às 06h10.

Santo Antônio propicia mais uma noite “mágica” em Correntina.
Por Teoney Guerra.


Mantendo viva uma tradição que perdura por quase oito décadas, centenas de pessoas participaram de mais uma “queima de arvoredo” na cidade de Correntina: o tradicional festejo de Santo Antônio, criado por Seu Otaviano, e mantido pela terceira geração da sua família. Há 77 anos, o festejo faz parte do ciclo local de festas juninas.

Mais uma vez, um grupo de adolescentes e rapazes foi ao mato nas primeiras horas da manhã, onde cortou uma árvore de caule reto e copa folhosa, que foi trazida até a cidade, e entregue em frente à casa, à família Pereira dos Santos, que mantém viva a devoção ao Santo. Seguindo a tradição, a copa da árvore foi enfeitada e paramentada com bandeiras contendo cédulas de dinheiro, brinquedos de plástico, utilidades domésticas e outros bens e objetos, transformando-a no “arvoredo”, o símbolo da festa. E no interior da residência, mulheres fizeram os biscoitos, bolos, cozinham carne e preparam farofa, e outras montam o altar para ser rezada a ladainha.


Depois de preparado, o “arvoredo” foi fincado no chão, sob vivas, assovios, cantorias e foguetes, na rua previamente interditada ao trânsito para a festividade.

Finda a tarde e iniciada a noite, as toras de madeira formavam a fogueira que não tardaria a arder em brasa, e a árvore enfeitada, fincada no asfalto, teria o caule queimado, e os objetos nela pendurados seriam “depenados”.
Depois da janta a rua se movimentou, com a chegada de homens, mulheres e crianças que se achegaram para a noite festiva. As mulheres adentraram na casa, onde não tardaram a começar a ladainha. A aglomeração na rua se formou pouco depois, com pessoas em pé e outras sentadas nas calçadas. Foguetes explodiram no céu; traques e bombas no chão. Um carro de som fez a música forró ecoar pela via pública e arredores.


Com a ladainha em andamento, a fogueira foi acesa, dando início ao ato final do festejo; a queima das toras de madeira que formam a fogueira passou a ser acompanhada pelos presentes, que começam uma espécie de contagem regressiva, em torcida, pela queima do tronco do “arvoredo”. A rua foi enchendo, a aglomeração crescendo, movimentando cada vez mais todo o quarteirão.
Na sala cheia, especialmente de mulheres, as atenções estavam voltadas para a imagem do Santo Antônio, que ocupava o ponto central do altar, ladeado por flores e velas acesas, que queimavam. A fumaça e o odor da parafina em combustão impregnaram o ambiente durante o ritual religioso que durou quase uma hora, com as orações, os cantos, os pais-nossos, e ao final, os vivas. Terminado, a comida foi então servida, e a sala ficou vazia, tendo todos ido para a calçada. A partir daí, a fogueira e o “arvoredo” passaram a ser a atração final.
As toras de madeira da fogueira foram sendo transformadas em brasas e cinzas rapidamente, enquanto o tronco da árvore, umedecido pela seiva que até pouco lhe dava vida, resistia mais à queima. Ao redor, crescia a expectativa pela queda da árvore, enquanto o calor do fogo se propagava, afastando o frio, não tão intenso, mas que obrigava muita gente a usar roupas mais pesadas, se agasalhando. Do lado mais baixo da rua, para onde o arvoredo pendia, os “avançadores” fixavam os olhos e a atenção nos itens que estavam pendurados nos galhos. Por todos os lados, os celulares filmavam flagrantes daquela situação especial, enquanto mais fogos, bombas e traques explodiam, e o som do forró propagava, animando a multidão. Mais toras de lenha foram postas na fogueira, alimentando o fogo que não tardou a queimar o cerne do tronco da árvore, que deu demonstração de que iria tombar.
A sensação de que o “arvoredo” logo cairia agitou a multidão que passou a gritar, assoviar, e entrou em estado de êxtase. Do lado para o qual a árvore pendia, os “avançadores”, de olhos esbugalhados, atentos, cada qual fitando o objeto que desejava pegar. Enquanto ao redor, os assistentes vibravam com toda aquela expectativa. A árvore balançou e arriou lentamente, para em seguida, tombar. Tempo suficiente para a turba se atirar sobre os galhos e a folhagem, a avançar e arrancar à força, entre solavancos, murros e empurrões, os objetos nela amarrados.
Depois de alguns segundos de disputas, o tumulto chegou ao fim: uns, ostentando como troféu o objeto “avançado”, enquanto outros, de mãos vazias, se afastaram a demonstrar, não o melhor sorriso, mas uma certa satisfação, por ter podido reviver um momento tão típico, divertido, o melhor da nossa tradição.
Parabéns Tony de Guerrinha pela matéria, ficou show. Orgulho de termos filhos da terra escritores como Tony, Helvécio de tia Zene e tantos outros.
Dia 13 de junho foi na casa de Toi corujinha, dia 25 na casa do nosso amigo baiano, João binga. Está tradição é uma forma de podermos voltar ao tempo de criança. Correntina sempre será amanda por todos. Viva Santo Antônio! Viva são João! Vida são Pedro ! E que Deus continue nos abençoando.