Publicado em 11/08/2025 às 15h35.

SENHORINHA, A IRMÃ DULCE DOS ANIMAIS DE CORRENTINA.
Mais uma, entre tantas mulheres correntinenses de destaque. Refiro-me à nossa querida e inestimável Senhorinha. Trata-se de uma funcionária pública municipal, cuja vida é dedicada aos cuidados de pessoas e de bichos, de humanos e de não-humanos. Vale esclarecer que seu verdadeiro nome é Senhorinha Rodrigo. Na condição de técnica de enfermagem, cumpre o seu turno de trabalho no hospital municipal para, nos tempos vagos, sair à busca de outros pacientes, ou seja, dos quadrúpedes conhecidos como pets.
Faça chuva ou faça sol, dia ou noite, não importa, todo tempo e hora ela sai para acudir os animais nas praças, ruas, becos e avenidas. É lá que eles são feridos, doentes, maltratados e abandonados pelo próprio homem, principalmente depois de velhos e imprestáveis. Ao encontrá-los, Senhorinha os alimenta, cura suas feridas, recupera-os, devolvendo-lhes a alegria animalesca. Ela é capaz de reconhecer um por um, naquele contingente de mais de cem animais que vagueiam pelas ruas. Além disso, mantém sob seus cuidados mais de uma dezena deles, todos carinhosamente resgatados do abandono. Ao agir assim, com esse imenso coração transbordante de amor, Senhorinha age como a “irmã Dulce dos animais desprotegidos.” Guardadas as devidas proporções, ela pode ser considerada a versão feminina do famoso Francisco de Assis.
Quem não conhece o dito popular: “estou vivendo vida de cachorro.”? Apesar do dito, para esta Senhora a vida dos cães e de outros animais não precisa ser necessariamente ruim e sacrificada. Isto porque os animais também têm direito a uma vida digna, conforme previsão legal que deve ser consubstanciado nas ações éticas do homem.
De sua parte, Senhorinha segue lutando, labutando e insistindo em tocar para frente a franciscana vocação de defender a vida. Parece até que ser designada por uma força do alto, ou qualquer inspiração divina para a arte do cuidado. Ela que, por desígnio ou por admirável opção, percorre a cidade desde manhã, cumprindo a missão de visitar, tratar e alimentar uma multidão de cães na cidade, a maioria vítimas de maus tratos e da indiferença social.
Sua luta não vem de hoje. Todos os habitantes de Correntina certamente já conhecem a generosa dedicação desta senhora, que divide o seu tempo entre o emprego e a assistência aos animais. Entretanto e apesar disto, sua missão, seu agir e seus apelos ainda permanecem ignorados. A sociedade e as autoridades ainda não se sensibilizaram diante dessa nobre causa abraçada por Senhorinha. A fome, a miséria e a indigência, normalmente são realidades às quais poucas pessoas dispõem-se a enfrentar.
Por diversas vezes presenciei Senhorinha carregando água em baldes para dar aos cavalos cujos donos deixavam o dia inteiro amarrados nos troncos das árvores. Em outros momentos, eu a vi dando comida aos cães desfalecidos nas beiradas das calçadas. O coração de Senhorinha é maior que os desafios da solidariedade ou da falta desta, pertinente à defesa das grandes causas.
Este é o caso que ronda e salta à vista na cidade de Correntina. Realidade dura que Senhorinha, sozinha toma para si, gastando os seus parcos recursos no investimento, na recuperação e no tratamento desses pobres animais, invariavelmente encontrados nos grotões e nos becos da cidade. O mais gritante é que todos os pets são resgatados com a aparência esquelética, desnutridos e doentes. O seu exemplo de cuidadora é superior aos recursos materiais que lhe são disponíveis, o que serve de inspiração e velada cobrança à sociedade e às instituições.
Aliás, no atual momento, que falam-se tanto em ecologia integral e cuidados perante o planeta e tudo o que há sobre ele, faz sentido defender a dignidade dos animais. Além do que, a luta de Senhorinha não se reduz à busca de animais abandonados pelas ruas. Ela faz da própria casa uma espécie de extensão do lar dos pets, tratando-os com doses altíssimas de amor e de bem querer.
Embora a iniciativa de Senhorinha seja louvável, ela sozinha não dá conta. É preciso mais que isso, pois fazem-se necessários cuidados veterinários, sanitários e assim por diante. Precisa, sobretudo, de quem dê mais organicidade e planejamento a esse belo trabalho de Senhorinha. Talvez a criação de uma Associação ou ONG, com vistas a uma melhor e perene assistência, tal a relevância de uma atividade tão importante como essa.