Publicado em 30/05/2024 às 23h19

Por Antônio Rocha Souza.
Por Antônio Rocha Souza.

 

AS MÃOS QUE FAZEM A CIDADE.

As cidades nascem, crescem, declinam e morrem. Mas, a propósito, com quantas mãos se faz uma cidade? Por certo a construção de uma cidade nunca é via de mão única. Pois, se há a mão do senhor há também a mão do servo; se há a mão do feitor há a mão do escravo. Uma cidade jamais é feita por uma mão só… Se há uma mão que se ergue com o chicote, há outras mãos que carregam pedras e tijolos para erguer construções.

Tudo é fruto do esforço e da genialidade do coletivo. Desse modo, se há uma mão que recolhe, há outra que planta. Se há uma mão que dita cultura, há outra que faz cultura. Se há uma mão visível pela força da tradição e imposição do sangue familiar, há também as mãos invisibilizadas das multidões, que foram e são exploradas no seu dia a dia. Se há marcas dos pés no monumento da fama, há também os que têm os pés na lama e vivem no anonimato.

Portanto, a cidade é uma construção social e não o resultado de uma única mão. Ela é feita do suor, do esforço e da genialidade de um povo nas suas variadas representações de classe, de religião, de cor e visão política. Não pode ser legítima e verdadeira a supremacia de grupos, de etnias ou de tradições familiares. A cidade é feita por várias mãos e corações que pulsam na mesma direção.

Nela, laboram as operárias e os operários: Padeiros, leiteiros, alfaiates, pintor, músico, costureiras, açougueiros, carpinteiros, garis, carregadores de lenha e gás e muito mais…  É assim!  Como abelhas na colmeia…

É uma pena que nos monumentos da fama onde figuram os nomes dos pais da cidade, não figuram os nomes dos anônimos no rol da galeria da fama e do reconhecimento. Já que por certo são inúmeros os nomes que ficaram pra trás.

Uma cidade não pode ter filiação. A menos que seja a do povo. A cidade é filha de todos os homens e de todas as mulheres que na luta e labuta, botaram tijolo por tijolo, cimento por cimento até erguer prédios e casas, pontes e pavimentos, praças e jardins e a social convivência.

Sem os anônimos e as gentes simples do corpo social, cidades não haveriam de nascer. São eles que a provêm a URBE. Que erguem, sustentam e mantém… Então, não faz sentido atribuir paternidade apenas a um grupo social, quando a sua progenitura se esparrama pelo corpo social.  Assim, só posso creditar ao povo. A ele os nossos aplausos e felicitações. E que a sua memória seja permanente!

Antônio Rocha de Souza, correntinense, teólogo, filósofo e professor universitário.

26/05/2024

3 COMENTÁRIOS

  1. Parabéns Antônio Rocha. Esse texto maravilhoso.
    Ter a consciência de que é com a colaboração de todos que fazermos forte para uma construção integrativa.

  2. Parabéns Antônio Rocha de Souza, pelo belo e bem escrito texto que revela como realmente são construídas as cidades. O texto reflete a lucidez de um correntinense que vai ao contrário da recorrente bajulação a famílias de coronéis parasitas, truculentos e analfabetos de ontem e de hoje, enaltecidos por outros conterrâneos que, desprovidos da devida competência e formação exigida, deturpam a história de Correntina em detrimento do protagonismo laborioso do povo trabalhador. O belo e lúcido texto guarda similaridade e coerência com o “Perguntas de um trabalhador que lê”, do sempre atual autor alemão Bertolt Brecht. Apraz-me ler um texto como este, num tempo tão obscuro em que vive Correntina, onde se sobressaem os medíocres, os hipócritas, os parasitas, os mercenários e os pseudo intelectuais. Parabéns a você Antônio Rocha de Souza, correntinense que nos orgulha, e ao Jornal de Correntina pela publicação de seu texto. Aguardamos a produção e publicação de outros textos de sua autoria. Forte abraço, companheiro.

  3. Salve Correnna! Salve o bom debate…!Aos comentadores do texto do professor Paulo o meu respeito e a minha atenção. Penso que o debate é sempre bom e construvo, e que, por isso, os velhos gregos nham tanto apreço a essa boa práca pedagógica. Claro, desde que não haja ofensas pessoais. Quanto ao texto do Paulo Oisiovici, não quero aqui opinar sobre o mérito da questão, tal como: se se deve ou não ceder prédio público à iniciava privada, ou mesmo entrar no âmbito dos governos municipal e federal sobre a gestão educacional. Eu quero apenas e tão somente expor, alguns aspectos que julgo importantes sobre o professor Paulo, ao longo desses 40 anos de convivência. Um testemunho apenas… De fato Paulo tem notório saber na sua área de atuação e especialidade. É, sem dúvida, portador de uma excelente base acadêmica, tendo palestrado em importantes seminários dentro e fora do Brasil, alem ter escrito livro cien1camente irretocávl, inúmeros argos em jornais e revistas dentro e fora do país. Também é tradutor do russo para a língua portuguesa, com domínio em outros idiomas com demonstrações prácas. Isso denota o seu notório saber e quali1cação para o debate. No campo práco posso testemunhar que o mesmo foi um dos responsáveis pela organização e fundação do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Correnna, além de esmular, organizar e alfabezar os ribeirinhos na Comunidade do Coro de Porco, liderando muitas lutas para a defesa dos territórios daquele povo. Veja o (a) leitor (a), que de fato há um trabalho práco, importante e necessário sob o ponto de vista social, prestado pelo ilustre professor no seu tempo e espaço. Posto isso, penso que é importante seguir com o debate, mas que seja para unir, fortalecer e nunca dividir. Cada um tem o seu papel na construção da vida, da cidade e do mundo. Viva o bom debate! ARS.

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